A reitoria biônica da UEG e os enredos da reforma administrativa
Quando fazia meu estágio pós doutoral na Universidade do Porto, em Portugal, nas reuniões sobre a temática Estratégias aplicadas à gestão da Informação, costumava ouvir de um colega pesquisador a seguinte frase: “passarinho que anda com morcego amanhece de cabeça para baixo e perde sua capacidade de cantar”.
O “gajo”, expressão coloquial bem portuguesa, fazia uso do provérbio como um alerta para refletirmos sobre as questões relevantes de um dado estudo. Neste sentido, colocava que a definição errada de um problema de pesquisa, baseada em pressupostos subjetivos de interesses pessoais ou de grupos e sem uma devida evidência epistemológica, ou seja, fundamentada na capacidade de separar o conhecimento científico do senso comum, nortear de maneira errada a sua compreensão sobre a realidade de um fenômeno observado.
Numa linguagem coloquial o pesquisador queria dizer que quando adotamos hábitos, ideias e pensamentos não convergentes com os princípios que regem nossos paradigmas de conhecimento, perdemos a nossa identidade e a capacidade de autocrítica e decisão. Neste contexto, é fácil e conveniente adotar a verdade alheia como solução para nossos problemas.
Neste sentido, abro aqui um parênteses para contextualizar o provérbio e o estágio atual da Governança acadêmica e administrativa da Universidade, nos últimos dois anos de intervenção.
A reforma administrativa da UEG de dezembro de 2019, foi um ato governamental ungido pela Secretaria de Desenvolvimento e Inovação e sacramentado pela Reitoria Interventora para que fosse implementado um conjunto de reformas internas, com o pressuposto de melhorar a eficiência e a eficácia da gestão da Universidade.
Entretanto, no decorrer de 2020, fiz uma série de artigos sobre as impropriedades das medidas adotadas e, também, em relação ao fracasso e a ineficiência das ações acadêmicas e administrativas implementadas pela Reitoria Interina (administração central) como modelo de gestão.
O atual modelo organizacional em vigor na UEG foi formatado sob uma perspectiva de enredo político e administrativo em promover a eficiência da gestão financeira da Instituição, e, sobretudo, desmantelar o passivo político eleitoral organizado pelo Reitor Haroldo Reimer que renunciou em 2019.
Como um ponto final da intervenção, a reforma administrativa previa a volta à normalidade na Universidade, com a realização das eleições diretas para a Reitoria e demais cargos em abertos, tais como: Diretores de Institutos, Coordenadores Centrais Acadêmicos, marcada para novembro de 2020.
Todavia, devido a uma manobra interna do Reitor Interino atual, em exercício, e da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação, o Governo editou o decreto 9767, de 17.12.2020, que suspende as eleições diretas na Universidade. Uma frustração generalizada para a comunidade Uegeana.
Neste sentido, percebe-se, de fato, o interesse de grupos internos em se perpetuar na administração da Universidade, conforme ficou evidente quando se analisa o argumento falacioso contido no processo nº 202014304002095, no qual o atual reitor interino alega: “não haver condições reais de concluir toda a reforma pedagógica/reestruturação antes das eleições gerais previstas para serem realizadas no corrente ano”, uma referência a novembro 2020.
Daí conclui-se que o passarinho está andando com morcego! Perdeu a identidade e a capacidade de autocrítica. Portanto, agora, sob a égide de uma reitoria biônica (não eleita) a comandar os destinos da UEG, podemos aguardar momentos críticos e de muito contencioso acadêmico e administrativo.
Francisco Alberto Severo de Almeida é professor da UEG, doutor em Administração pela FEA/USP e pós-doutor em Gestão da Informação pela Universidade do Porto- Portugal. Membro eleito do Conselho Universitário da UEG