Falta d’água em Anápolis tem solução, mas é preciso ir além das ações de curto prazo
Anápolis convive há muitos anos com uma peculiaridade: embora tenha se desenvolvido numa região muito rica em nascentes, é um dos municípios goianos que mais sofre com a falta de água. Há mais de uma década convivemos com constantes problemas de abastecimento, que se agravam a cada ano e têm gerado grandes transtornos para moradores, atrapalhando também nosso desenvolvimento econômico, na medida em que se torna um empecilho para atração de novas indústrias e ampliação das que já estão aqui instaladas.
Colocando de uma forma mais coloquial, podemos dizer que o sistema de abastecimento de Anápolis tem uma dinâmica de basicamente buscar a água em outros municípios. Parte do abastecimento vem de Abadiânia, com um sistema que bombeia a água para trás. No caso do sistema que abastece o Distrito Agroindustrial (Daia) e alguns bairros da região Sul, a água é cercada perto de Leopoldo de Bulhões e também bombeada para trás.
Para falarmos sobre segurança hídrica para a indústria e para população, sob uma premissa de sustentabilidade, temos que pensar como todo esse ciclo funcionava antes. A água chegava pela chuva e infiltrava no solo, ficando depositada no lençol freático. Anápolis era conhecida como berço das águas e essas nascentes alimentavam os rios da região. A cidade cresceu muito em cima destas nascentes e o solo cada dia mais impermeabilizado não permite a alimentação do lençol freático no nível de antes.
Precisamos buscar soluções para fazer com que a água percole, que é o processo de infiltração do líquido pelas camadas da terra até o lençol freático. Esse é um caminho mais a longo prazo para termos no futuro garantia de abastecimento no período de estiagem.
As ações tomadas hoje pela Saneago são necessárias, porém paliativas. Bombear água do Capivari para dentro do Piancó é uma solução até quando, se o Capivari também está secando? É evidente que existem soluções, mas talvez não sejam as que estão hoje no radar das autoridades.
Temos que pensar que Israel vive com uma média anual de precipitações em torno de 400 mm, menos de um terço da média de Anápolis, que fica em torno de 1.500 mm, e mesmo assim consegue manter um abastecimento satisfatório para sua população. Nosso modelo de ocupação do solo e o foco dos investimentos em tecnologia e engenharia para esta área estão equivocados. Isto vale para Anápolis e para a maioria absoluta das médias e grandes cidades do Brasil. Temos que começar agora a tomar medidas eficazes para reconstituir o ciclo hídrico, adotando soluções para que o serviço ecossistêmico de percolação e fornecimento de água pelas nascentes continue. Ou então vamos viver períodos de estiagem cada ano mais penosos.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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