Xiomara assume como 1ª mulher presidente em Honduras e resgata auxiliares do marido

Para resolver a crise financeira, a nova presidente aposta em reformas estruturais

Folhapress Folhapress -
Xiomara assume como 1ª mulher presidente em Honduras e resgata auxiliares do marido
Manuel Zelaya, ex-presidente de Honduras (Foto: Reprodução)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A nova presidente de Honduras, Xiomara Castro, tomou posse nesta quinta-feira (27), tornando-se a primeira mulher no cargo no país. Ela chegou ao poder apoiada pelo marido, o ex-presidente Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado em 2009.

Já na cerimônia, no Estádio Nacional de Tegucigalpa, houve um aperitivo dos desafios que se impõem à política logo no início do mandato: a faixa presidencial foi entregue por Luis Redondo, presidente do Congresso reconhecido por Xiomara. Ocorre que na terça (25), por causa de um racha no partido governista, uma ala dissidente de deputados elegeu um outro líder, como se houvesse a instalação de duas legislaturas.

A crise política, apesar disso, não deu o tom. Ao receber a faixa, a nova presidente preferiu abordar outros de seus desafios e criticou políticas públicas do governo anterior, do direitista Juan Orlando Hernández. Segundo ela, “a catástrofe econômica” atual de Honduras “não tem paralelo histórico”.

De acordo com Xiomara, a dívida externa do país cresceu sete vezes nos últimos dois mandatos presidenciais, liderados pelos conservadores. Hoje, a dívida total do país é de cerca de US$ 15,5 bilhões (R$ 83,7 bi), quase 60% do Produto Interno Bruto.

Para resolver a crise financeira, a nova presidente aposta em reformas estruturais. Segundo ela, sem essas mudanças será “praticamente impossível” fazer os pagamentos da dívida externa. “Meu governo não vai continuar o turbilhão de saques que condenou gerações de jovens a pagar a dívida contraída pelas suas costas”, acrescentou, sob aplausos.

Ela ainda prometeu combater a corrupção, a pobreza e a violência, problemas crônicos que ajudaram a alimentar ondas de imigrantes com destino aos EUA.

As reformas sociais, porém, dependem do apaziguamento político no Congresso e no Libre (Libertad y Refundación), partido da líder eleita. Nesta quinta, Redondo abriu os trabalhos no Legislativo sem maiores contratempos, enquanto Jorge Cálix, presidente eleito por dissidentes da legenda e deputados da direita, permaneceu em silêncio.

Ainda não está claro como a crise será solucionada, mas a agência AFP noticiou que a nova presidente havia oferecido a Cálix, que foi expulso do Libre, um cargo no governo. O deputado ainda não teria confirmado se aceita o convite, mas ele publicou nas redes sociais uma foto ao lado de Xiomara afirmando que tinha certeza que ela “vai transformar Honduras”.

A nova presidente também anunciou nesta quinta seu gabinete, com algumas figuras ligadas ao marido. Seu filho, Héctor Zelaya, será o secretário particular da presidente e um sobrinho, José Manuel Zelaya, chefiará a pasta da Defesa –em Honduras não há lei que proíba o nepotismo.

Outros ministros integraram a administração Zelaya, incluindo postos-chave. O diplomata Eduardo Enrique Reina (ex-secretário de governo), será o chanceler; a advogada Rixi Moncada (ex-dirigente da estatal de energia), ministra das Finanças; e a economista Rebeca Santos (ex-titular das Finanças), presidente do Banco Central.

Também se destaca a presença do general reformado Ramón Sabillón, nomeado para a pasta da Segurança, responsável pelo combate ao tráfico de drogas –área geralmente delicada em países da América Central. Sabillón chefiou a polícia nacional, mas foi demitido em 2014 depois de ordenar a captura dos chefes de um cartel ligado a grupos mexicanos. Ele deixou o país dois anos depois e se exilou nos EUA, alegando que estava em perigo.

Os americanos, aliás, acusam o agora ex-presidente JOH de corrupção e relações com o narcotráfico. O direitista nega, mas tem buscado acordos que possam lhe conferir imunidade, evitando uma possível extradição a Washington. Seu irmão foi condenado no ano passado à prisão perpétua por tráfico de drogas.

A cerimônia de posse de Xiomara contou com a presença de autoridades como a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, o rei Felipe 6º da Espanha, o vice-presidente de Taiwan, William Lai, e a vice argentina, Cristina Kirchner. A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff (PT) também foi a Tegucigalpa.

Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, houve certo mal-estar diplomático com o governo Jair Bolsonaro (PL) devido ao fato de a hondurenha ter despachado convites à petista e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Zelaya ficou refugiado na embaixada do Brasil após sofrer um golpe na época em que Lula estava no poder.

Kamala foi a enviada da Casa Branca em um movimento considerado raro, visto que os últimos eventos do tipo contaram apenas com delegações formadas por funcionários do baixo escalão do governo americano. Antes da cerimônia, ela já havia destacado no Twitter a importância das relações de seu país com os hondurenhos. As duas líderes devem se reunir ainda nesta quinta.

O país é visto pelos americanos como peça fundamental para conter a imigração ilegal de populações de países América Central, além de ser um dos principais aliados no apoio internacional a Taiwan, república separatista que protagoniza conflitos frequentes com a China. Apesar de fornecer suporte financeiro e militar a Taipei, os Estados Unidos não reconhecem oficialmente o país, ao contrário de Honduras.

Na campanha à presidente porém, Xiomara -que se autodenomina uma “socialista democrática”- chegou a ameaçar mudar os laços com Taipei e propor uma aproximação com Pequim.

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