Cursei Psicologia pra salvar minha mãe

Minha mãe sofre de um tipo de depressão que a acompanha desde a infância. Chegou a ser internada em ambientes manicomiais, atravessou toda sua juventude entre medicações, internações e tratamentos

Professor Marcos Professor Marcos -
(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

Na semana do Psicólogo comecei a refletir como fui parar aqui. Sempre sonhei cursar Direito, mas os caminhos da vida são tortuosos e nem sempre as escolhas são guiadas apenas por nossos desejos pessoais.

Minha mãe sofre de um tipo de depressão que a acompanha desde a infância. Chegou a ser internada em ambientes manicomiais, atravessou toda sua juventude entre medicações, internações e tratamentos.

Cresci com uma mãe extremamamente carinhosa e cuidadosa, mas que passava dias no quarto, chorava na mesa do jantar e optava pelo isolamento várias temporadas por ano. Mesmo com todo o adoecimento ela conseguia transmitir carinho, afeto e atenção. Imagino o quanto isso devia ser difícil.

Quando chegou o momento do vestibular fui aprovado em vários cursos e bolsas, e mesmo sonhando com o Direito eu optei pela Psicologia. Eu escolhi por ser um caminho paupável para buscar a “cura” da depressão da minha mãe.

Avancei nos estudos, mergulhei nas teorias, técnicas, estágios. E assim que pude, assumi os caminhos do seu tratamento. Encontramos o psiquiatra ideal, equilibramos o uso dos farmacos e a presença em sessões de psicoterapia.

Aprendi também a mediar conflitos, adaptar o ambiente e a criar contextos de diversão e valorização do cotidiano. Evitar gatilhos e protegê-la de desgastes desnecessários.

Assim ela ganhou qualidade de vida, passou a ajudar pessoas e retomou a autoestima tão abalada pela doença. Encontrou nas caminhadas diárias uma fonte de prazer. Com o tempo conseguimos deixar os fármacos, sempre com acompanhamento médico.

No meio dessa jornada ela perdeu a filha e o marido. Nesses momentos, o retorno para a psicoterapia foi necessário. Mas agora com uma dimensão mais madura e segura da própria saúde mental.

Não me arrependo da escolha. A Psicologia me deu grandes espaços e retorno profissional, financeiro e pessoal. Mais que isso, acho que de alguma forma, eu salvei minha mãe. A “cura” não está no final e não é um resultado, ela é o caminho.

Marcos Carvalho é professor, psicólogo e servidor público federal. Atualmente vereador em Anápolis pelo Partido dos Trabalhadores. Escreve todas às terças-feiras. Siga-o no Instagram.

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