Susana Naspolini, repórter da Globo, morre de câncer aos 49 anos
"Mamãe não está mais com a gente. Ela lutou muito, nossa guerreira", postou a filha da profissional nas redes sociais
A repórter da Globo Susana Naspolini morreu nesta terça-feira (25) de câncer, aos 49 anos. A informação foi confirmada pela filha dela, Julia, de 16 anos.
“Oi, amigos, Julia aqui É com o coração doendo que venho contar pra vocês que a mamãe não está mais com a gente. Ela lutou muito, nossa guerreira! Agradeço muito pelas orações, muito mesmo, muito obrigada, mas infelizmente não deu”, escreveu a jovem no perfil da mãe.
Susana estava internada havia mais de uma semana em São Paulo. A jornalista foi diagnosticada com um câncer em fase de metástase no osso da bacia. Em setembro, ela passou oito dias internada no Rio de Janeiro em virtude de uma infecção e imunidade baixa.
Semana passada, Julia postou um vídeo também no perfil da mãe explicando a situação, que era considerada gravíssima pelos médicos.
“Ela estava com metástase no osso da bacia, já tinha se espalhado pra medula óssea desde julho. Então, ela vinha com uma quimioterapia mais forte, que fez ela perder o cabelo. Mas a metástase se espalhou por vários outros órgãos, entre eles o fígado. O fígado tá muito comprometido. Ele [o médico] disse que não sabem mais o que fazer, não sabem se tem mais alguma coisa pra ser feita, e o estado dela é muito grave. Eu não sei o que fazer”, disse a adolescente, na ocasião.
INÍCIO NO JORNALISMO
Susana Naspolini nasceu no dia 20 de dezembro de 1972, em Criciúma, Santa Catarina. Em 1991, aos 18 anos, enfrentou o câncer pela primeira vez. Na época, cursava jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina e havia acabado de começar um curso de teatro no Tablado, no Rio de Janeiro, para seguir o sonho de trabalhar como atriz.
No entanto, precisou interromper os estudos após descobrir um linfoma. Fez 12 sessões de quimioterapia em São Paulo e perdeu os cabelos durante o tratamento.
Aos 19 anos, Susana foi contratada pelo SBT em Florianópolis e trabalhou na emissora até se formar. Depois, foi para a RBS, afiliada da Globo no Sul do país, onde atuou por dois anos como editora-chefe e apresentadora do telejornal local. Teve também uma breve passagem pela TV Vanguarda, afiliada da TV Globo em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Em 2001, conheceu o marido, Maurício Torres. Ele, que trabalhava no Esporte da Globo no Rio, indicou Susana para uma vaga de repórter temporária na GloboNews em 2002.
Após dois anos na função de repórter, foi para o Canal Futura. Passou ainda pela produção da Editoria Rio da TV Globo e pela equipe de reportagem dos telejornais “Bom Dia Rio” e “RJTV”. Em 2008, em sistema de rodízio com outros repórteres, começou a apresentar o “RJ Móvel”, parte do “RJ1”, o quadro que mudaria sua carreira. A partir de 2013, ela se tornou a principal apresentadora do quadro.
Na atração, moradores da capital fluminense denunciavam à emissora problemas como obras paradas, praças abandonadas ou ruas esburacadas. Era aí que Susana entrava em ação, convocando uma autoridade, do Executivo municipal ou estadual, para prestar esclarecimentos ao vivo e dar um prazo para a resolução da questão. A data era marcada pela repórter em um grande calendário. No dia designado, Susana voltava ao local para cobrar a solução prometida.
Tudo isso era feito com muito bom humor pela jornalista, que buscava sentir as mazelas da população na pele. Para tanto, escalava muros e árvores, entrava em buracos, andava de bicicleta em pistas acidentadas e brincava em brinquedos mal conservados.
Era comum vê-la usando fantasias e adereços para ilustrar o problema. Certa vez, se fantasiou de jacaré para cobrar a reforma de uma ponte no Recreio dos Bandeirantes. Em outra ocasião, fez uma “dança da chuva” para protestar contra falta de água em Nova Iguaçu. Para comemorar a recuperação de uma praça em Bangu, simulou uma cerimônia do Oscar, usou vestido longo, andou de skate e desceu no escorregador.
Os moradores me contam os dramas e criamos juntos as situações. É minha obrigação saber o que dá ou não para fazer ao vivo. Se não conseguem andar de bicicleta, eu preciso mostrar isso. Se o morador coloca saco plástico no pé para passar pelo esgoto, vou botar também. Susana Naspolini ao UOL, em 2019.
“Não estou criando nem aumentando. O repórter é um ser humano como qualquer outro, que está ali cumprindo a obrigação de mostrar um problema. Essa é a minha luta”, disse, em entrevista ao UOL em 2019.
A resposta da população era de carinho: Susana costumava fazer entradas ao vivo tomando café, comendo churrasco e às vezes até ganhando presentes dos personagens de suas matérias.
O jeito descontraído levou a jornalista para as arquibancadas da Sapucaí no carnaval, cobrindo a reação popular aos desfiles. Em 2017, passou a apresentar também o “Globo Comunidade”, transmitido no domingo de manhã, que exibia matérias produzidas por editorias locais do Rio de Janeiro.
Depois de enfrentar o câncer pela primeira vez em 1991, Susana voltou a lutar contra a doença dezenove anos depois, em 2010, aos 37. Ela descobriu um micronódulo no seio, um câncer de mama, e após a radioterapia, fez mastectomia total no seio direito. Durante o tratamento, descobriu também um tumor na tireoide.
Em 2016, voltou a enfrentar o câncer de mama e passou cerca de seis meses longe da televisão. No final do ano, voltou a comandar o “RJ Móvel” com direito a festa com flores e bolo nas ruas de Campo Grande, zona oeste do Rio, além de homenagens de colegas e telespectadores.
Em 2020, Susana foi diagnosticada com câncer na bacia. A jornalista buscava manter os seguidores atualizados sobre o tratamento, sempre com um sorriso largo, e afirmou que era confortada pela respostas das pessoas que a acompanhavam.
“Acho que a vida ganha mais sentido quando a gente compartilha das histórias felizes às mais difíceis. Quando descobri o diagnóstico e fui para o Instagram contar, recebi tanto carinho que me deu uma injeção de ânimo. Isso faz muita diferença no meu estado de espírito. As histórias vão te estimulando a melhorar”, contou, em entrevista a Universa, em abril deste ano.
Em julho de 2022, a doença se espalhou para a medula óssea, exigindo uma quimioterapia mais forte, venosa. No mês seguinte, ela publicou um vídeo em que raspava os cabelos com a ajuda da filha.
Em setembro, Susana passou oito dias internada para tratar uma infecção e imunidade baixa. Ela comemorou a alta com uma publicação ao lado dos profissionais de saúde nas redes sociais.
Em outubro, Julia, filha da jornalista, informou que a metástase se espalhou por vários outros órgãos, comprometendo o fígado e deixando a jornalista em estado gravíssimo.
Susana ficou viúva em 2014, após a morte precoce do marido, Maurício Torres. O jornalista esportivo morreu em 2014, aos 43 anos, em decorrência de uma infecção pulmonar. O apresentador do “Esporte Fantástico (RecordTV) ficou internado por cerca de um mês após passar mal em um voo entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Inicialmente, constatou-se uma arritmia cardíaca, mas exames mais rigorosos detectaram uma infecção que não regrediu, mesmo com o uso de antibióticos. Na época, a única filha do casal, Julia, tinha 8 anos.
“A morte dele foi tão sofrida. Aprender a não ter ele nas nossas vidas foi tão difícil que não foi porque eu estava doente que ficou pior. Teria sido muito bom se ele estivesse ao meu lado por causa do câncer, mas também na Páscoa, no Natal, no cinema de sábado à noite, nos problemas”, disse Susana ao UOL, em 2019.
Em 2021, a jornalista perdeu o pai, Fúlvio Naspolini, que morreu após contrair uma bactéria na UTI depois de fraturar a perna em uma queda.
A luta contra o câncer e as mortes do marido e do pai levaram a jornalista a escrever dois livros: “Eu escolho ser feliz” (Editora Agir) e “Terapia com Deus” (Editora Petra).
Susana deixa a filha, Julia, de 16 anos, e a mãe, Maria Dal Farra Naspolini.