Produtores explicam aumento de preço de ingressos e custo de produção nos shows em Goiás

Preço das entradas para eventos no estado chega a consumir quase metade de um salário mínimo

Emilly Viana Emilly Viana -
Produtores explicam aumento de preço de ingressos e custo de produção nos shows em Goiás
Imagem mostra Carnaval de 2020 durante a apresentação do DJ Alok. (Foto: Divulgação/ Prefeitura de Goianésia)

Após dois anos de palcos vazios e uma pós pandemia de incertezas para o setor cultural, 2023 começou com a expectativa de um boom de shows e festivais em Goiás. O movimento, que teve início no semestre passado – quando a agenda dos moradores do estado passou a contar com pelo menos um grande evento regional por mês -, ganha fôlego com o carnaval, que acontece de 18 a 21 de fevereiro.

O problema é que um dos períodos mais agitados para os goianos nos últimos anos tem o seu custo, e ele é alto. Para além da euforia de ver o artista favorito ao vivo, os valores dos ingressos têm surpreendido os entusiastas dos espetáculos, com preços que chegam a corroer até 44% de um salário mínimo, atualmente em R$ 1.302 – e 72% no caso de festivais com atrações internacionais em outros estados, para os que ainda podem gastar com passagens.

Nas últimas semanas, por exemplo, os fãs da dupla Jorge e Mateus utilizaram as redes sociais para comentar sobre o valor das entradas da nova turnê “Jorge e Mateus Único”. Os ingressos mais baratos para o show que será realizado no dia 7 de maio no estádio Serra Dourada, em Goiânia, estão sendo vendidos por R$ 500 + R$ 75 em taxas até a tarde desta quinta-feira (2).

Ao Portal 6, um produtor sertanejo que prefere não se identificar revelou o que mais tem impactado o preço dos ingressos do lado de lá. “Hoje o que tem pesado o transporte e a infraestrutura, porque as pessoas querem novidades, postar nas redes, e o valor destes dois pontos subiram. Quanto ao cachê, os artistas não costumam ter valores fixos, funciona mais como um leilão: você faz uma oferta e os agentes decidem se aceitam ou não”, detalha.

Mas se engana quem acha que a alta se limita aos sertanejos ou outros ritmos populares, que já têm público cativo em Goiás. Os amantes do rock e pop alternativo caíram para trás com os preços do Festival MITA, que será realizado no Rio de Janeiro em maio. Com Lana Del Rey entre as principais atrações, uma entrada inteira na pista, para apenas um dia, sai por R$ 950. “Os artistas internacionais estão mais dispostos a vir para cá, mas trazer equipamentos, o dólar nas alturas, têm deixado tudo menos, digamos, acessível”, diz o produtor.

‘Lado mais fraco’

Na visão da produtora cultural Marci Dornelas, os artistas menores são os que mais vêm sofrendo com o aumento nos custos de produção das apresentações, já que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. No mercado há 25 anos, ela explica que, como eles dependem de verbas de incentivo do poder público ou da iniciativa privada, está mais difícil ter acesso aos recursos.

“Nesta conta temos a contratação de palco, som, luz, a logística do transporte, além da mobilização de mão de obra em cada detalhe. Nos últimos anos, a cultura sofreu com muita desinformação e aí os empresários, por vezes, acreditam que os incentivos estão ligados a coisas erradas, quando na verdade o sistema é muito criterioso para escolher os projetos. É um processo que se tornou mais fechado”, expõe.

Marci destaca que o investimento em cultura é um “ganha-ganha”, pois a indústria movimenta a economia e promove a abertura de milhares de postos de trabalho. Para se ter uma ideia, durante os meses de restrições devido à pandemia, o setor chegou a ter baixa de quase 25 mil empregos em Goiás, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. “E nós ainda fortalecemos o turismo. É só olhar para cidades com grandes festivais e uma cultura diversa, como é a movimentação de pessoas de fora”, acrescenta.

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