Caso de agricultora encontrada morta, seminua e com cabeça em caixa d’água ganha desfecho na Justiça

Ex-marido e suspeito do crime foi julgado pelo crime de feminicídio, ocorrido no interior de Goiás

Samuel Leão Samuel Leão -
Caso de agricultora encontrada morta, seminua e com cabeça em caixa d’água ganha desfecho na Justiça
Agricultora Neurice Araújo, vítima de feminicídio. (Foto: Reprodução)

O tribunal do júri, realizado nesta terça-feira (23), condenou Sidronio Alves de Lima a 18 anos de prisão, em regime fechado, pelo feminicídio praticado contra a ex-esposa Neurice Torres, de 53 anos. Crime foi tipificado como homicídio qualificado, por motivo fútil e com emprego de asfixia.

No dia 11 de setembro de 2022, a agricultora foi encontrada morta, seminua e com a cabeça afundada em uma caixa d’água, no Assentamento Dom Roriz, na Zona Rural de Minaçu – onde vivia.

A decisão foi endossada pela juíza Isabella Luiza Alonso Bitttencourt, que presidiu o julgamento e ainda apontou o agravante do crime ter ocorrido contra uma mulher integrante de grupos marginalizados.

“No caso em apreço, observo que além da condição feminina e do crime ter sido praticado no âmbito familiar, considera-se a condição de mulher negra, camponesa e integrante de movimento social, o qual, amiúde, é estigmatizado por diversos setores da sociedade”, expressou.

O suspeito já tinha registros de violência doméstica praticados contra a mulher. O casal teve três filhos – que eram o orgulho da agricultora, pois estudavam agronomia e medicina veterinária.

Contendo o choro e de costas para o pai, réu no processo, a jovem filha teve que ler as mensagens que havia trocado com a mãe durante o julgamento. Várias delas continham reclamações da mulher acerca do marido, pedidos de ajuda e relatos de momentos de medo.

“Seu pai está aqui, estou com medo. Ele chegou chamando”, relata uma das mensagens. Em dezembro de 2017, no Natal, Sidronio ainda teria falado que iria matar Neurice se ela não saísse da terra em que vivia.

Sobre a vítima

Conhecida como Dona Neura, a vítima era atuante na comunidade, participando de feiras como produtora de alimentos e também integrando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Goiás (MST). Em nota, o movimento expressou:

“Dona Neura era um exemplo de dedicação e amor com a terra e uma grande defensora da agroecologia. Era uma guardiã do Cerrado e possuía uma presença no MST que inspirava a todos. Um de seus maiores orgulhos era que todos seus filhos estão estudando graças à luta popular”, emitiu, em nota.

Realização do julgamento. (Foto: Divulgação)

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