Competição desleal: goianas revelam dificuldade em conciliar maternidade com o mercado de trabalho

Perspectiva de uma possível gravidez já seria um fator decisivo na hora das contratações

Davi Galvão Davi Galvão -
Competição desleal: goianas revelam dificuldade em conciliar maternidade com o mercado de trabalho
Mulheres relataram os diversos desafios enfrentados no mercado de trabalho por conta da maternidade. (Foto: Ilustração/Pexels)

Com o Dia das Mães se aproximando, é natural pensar em presentes, homenagens, e nas festividades em geral para comemorar a data. Porém, é fácil, em meio a toda euforia, esquecer-se de um grande problema que assola este grupo nos outros 364 dias do ano.

Acontece que, não bastassem as dificuldades em se ingressar no mercado de trabalho, mulheres ainda têm de lidar com uma problemática que jamais entraria no caminho da trajetória masculina: a dificuldade em conseguir e manter vagas ante a maternidade.

Esse problema, por mais curioso que pareça, independe de já ser mãe ou não. A mera perspectiva de uma possível gravidez já basta para ser um fator decisivo na hora das contratações de mulheres.

Ao menos, foi esse o relato de Wanessa Carvalhães, de 27 anos, moradora de Goiânia e que, no começo de 2023, tinha enviado o currículo para uma empresa na capital, onde esperava trabalhar na parte logística.

“Já tinha mandado o currículo, a empresa tinha até falado comigo já, dizendo que ia dar certo, era só aguardar. Mas aí uma semana depois, outro candidato pegou a vaga. Eles falaram só que da próxima vez eu talvez tivesse mais sorte”, contou, em entrevista ao Portal 6.

Acontece que Wanessa tinha um amigo em uma posição superior na empresa em questão que lhe confidenciou os reais motivos por trás do fracasso no processo de contratação.

“Obviamente, não vou falar nomes nem nada, mas esse amigo me contou que o que pesou na hora de decidir foi o fato de eu poder ter um filho. Isso me machucou muito, primeiro porque nem querer filhos eu quero. Agora, só porque eu tenho um útero, eu sou um risco na hora de contratar?”, questionou.

Uma história similar aconteceu com Patrícia Honoratto, anapolina de 32 anos, que, até o mês de fevereiro, fazia parte da equipe de gerência de uma empresa de tecnologia.

Mãe de primeira viagem, ela contou que, embora não tenha sido coagida a pedir contas por conta do filho, de apenas sete meses, foi forçada a sair do local que trabalhava, por conta das circunstâncias.

“Meu menino, Ravi, nasceu em outubro. Não culpo ele por nada, obviamente, não sei o que eu não faria pelo meu filho. Mas não tinha ninguém com quem deixar ele, às vezes eu precisava buscar ele na minha mãe mais cedo. Antes [de ser mãe] eu saia vez ou outra em horário de expediente e tava tudo ok, eu fazia meu trabalho, era elogiada, ninguém reclamava”, relembrou.

Porém, ela conta que, depois do Ravi, essas ausências, que em mais de cinco anos de casa nunca foram um problema, passaram a ser cobradas e punidas com muito mais rigor.

“Chegou ao ponto de eu precisar ver meu filho que estava com febre, chorando, eles falarem que iam descontar. Não me mandaram embora, mas eu resolvi sair. Nunca que eu ia colocar algo na frente do meu menino”, disse.

Situação complicada

Em entrevista à reportagem, a Cibele Ramos Gayoso (@estiloempresarialrh), psicanalista e gestora de uma empresa especializada em recursos humanos, contou que a situação narrada realmente é bastante desafiadora para as mulheres.

“A gente não pode colocar todo mundo na mesma caixinha, mas tem sim algumas empresas que ainda insistem em optarem por candidatos homens, para evitar a licença maternidade, o risco de gravidez, então acabam sim afunilando na escolha dos candidatos”, pontuou.

“Às vezes, não é nem por a mulher ser mãe, mas tudo o que uma possível maternidade pode acarretar, desestimula os patrões, que ainda tem esse pensamento”, explicou.

Apesar disso, ela revelou que diversas empresas já deixaram essa ideia para trás, tanto por conta do avanço da pauta feminista, quanto pelas necessidades de mercado.

“Tem muitos casos que a empresa começa falando que quer apenas candidatos homens, mas pela falta de interessados, acabam mudando de ideia”, afirmou.

Ainda, ela ponderou que, enquanto reconhece as dificuldades que mulheres enfrentam são bastante diferentes e, por vezes, mais severas do que as impostas ao sexo masculino, por outro lado, ser mãe pode ser um grande motivador para se empenhar mais.

“Ter um filho, alguém que depende de você, por mais difícil, cansativo e exaustivo que seja, também te faz dar muito mais duro, tudo de si. Cansa, mas também gratifica”, finalizou.

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