O que já se sabe sobre falsa biomédica que fez procedimento estético em influenciadora que morreu dias depois
Em depoimento, suspeita afirma ter cursado apenas até 3º período de Medicina em faculdade no Paraguai
Sem nenhum curso superior, documentos e diversas irregularidades sanitárias. Esse era o cenário no qual Grazielly da Silva Barbosa, suspeita de ter realizado um procedimento estético que resultou na morte da influenciadora brasiliense Aline Maria Ferreira, de 33 anos, atendia na clínica Ame-se, no Setor dos Funcionários, em Goiânia. A proprietária foi presa na manhã de quarta-feira (03) enquanto atendia outros pacientes no estabelecimento.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (04), a delegada da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (DECON), Débora Melo, afirmou que a suspeita se passava como biomédica para atrair os clientes, mas que, na realidade, não tinha nenhuma formação superior e que, em depoimento, afirmou ter cursado apenas até o 3º período de Medicina em uma faculdade no Paraguai.
“Ela não possui registro no Conselho Regional de Biomedicina (CRB) e disse que cursou até o 3º período do curso de Medicina no Paraguai, mas que havia trancado o curso. Isso foi há 3 anos. Ela também afirmou que tinha feito alguns cursos livres na área da estética, mas não apresentou nenhum diploma ou certificado”, destaca.
Segundo a autoridade, durante uma fiscalização da Vigilância Sanitária na clínica em meio às investigações, foi constatado que o estabelecimento atuava sem alvará sanitário ou prontuário dos pacientes, não exigia exames prévios dos clientes e tampouco tinha contratos que ressaltam o vínculo entre o consumidor e o local.
No ambiente, foram encontrados alguns rótulos de polimetilmetacrilato, conhecida como PMMA, que supostamente foi utilizada na influenciadora. O produto é considerado de risco de grau máximo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deve ser aplicado por médicos em pequenas correções e em casos de pessoas com HIV – não sendo recomendado para fins estéticos. As substâncias foram apreendidas, assim como os celulares da suspeita e da clínica.
Conforme a delegada, Grazielly responde por três crimes, sendo eles: exercício ilegal da Medicina, execução de serviço de alta periculosidade e indução do consumidor ao erro. Outro inquérito também irá investigar se houve lesão corporal seguido de morte e para comprovar a relação da morte da vítima com a aplicação do produto – uma vez que o laudo pericial não apontou a causa da morte.
Além disso, a PC entrou com um pedido para conseguir ter acesso aos aparelhos celulares retidos para identificar como a mulher adquiria os produtos e a forma de abordagem. Até o momento, nenhuma outra vítima foi encontrada pela corporação.
O que dizem as testemunhas?
Em um deles, uma amiga da brasiliense, que também já teria feito procedimentos estéticos com a suspeita e estava presente no dia do crime, alegou que, em nenhum momento, a falsa biomédica deu a entender, por exemplo, que a aplicação oferecia riscos à saúde.
“Em nenhum momento a presa esclareceu a formação e não falou dos riscos da aplicação, dizendo [segundo a amiga] que era um procedimento tranquilo e simples”, diz.
Questionada pela própria PC, Grazielly também divergiu nas versões ora confirmando a aplicação de PMMA e, em outras, alegando ter colocado um bioestimulador.
O caso
Aline Maria Ferreira foi internada no sábado (29) no Hospital Regional de Asa Norte (Hran) e faleceu na unidade de saúde na última terça-feira (02), supostamente após ter complicações em decorrência do procedimento estético feito na clínica Ame-se, em Goiânia. O processo foi feito no dia 23 de junho e consistiu na aplicação de PMMA nos glúteos.
Na sequência, ela retornou para a capital federal, apresentando febre e dor de barriga. Familiares da mulher ainda teriam ligado para clínica contando a situação, mas foram orientados a dar um remédio para dor de cabeça.
Quatro dias depois, na quinta-feira (27), o quadro de saúde piorou, com a influenciadora chegando a desmaiar. Ela foi levada pelo marido até o Hran.
Durante a hospitalização da vítima, Grazielly teria visitado a paciente, que já estava com um caso de infecção generalizada. Durante o encontro, ela teria dito que a situação era decorrente de um lençol da casa – o que foi desmentido pela família.
A proprietária também teria negado o uso de PMMA, afirmando ter usado o bioestimulador e levado o pai dela, que é pastor, para fazer uma visita e orar por Aline.