Jeferson Sodré: o jovem que ficou ‘invisível’ por 24 anos em Goiás

Ele não era reconhecido pelo estado até buscar ajuda da Defensoria Pública de Goiás

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Jeferson Sodré aguarda a identidade para recomeçar a vida (Foto: Reprodução/DPE)
Jeferson Sodré aguarda a identidade para recomeçar a vida (Foto: Reprodução/DPE)

Embora superpoderes sejam restritos ao mundo da fantasia, Jeferson Sodré pode dizer que viveu na invisibilidade por 24 anos. Isso porque o jovem era desconhecido do estado brasileiro, visto que não foi registrado oficialmente.

Nascido em Porto Velho (RO), Jeferson não foi registrado. Aos 07 anos, foi adotado por uma família goiana, ainda sem documentação que o identificasse. Assim permaneceu até os 24 anos, quando buscou a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO).

“A minha vida de criança e de adolescente foi muito puxada. Minha mãe nunca se interessou em tirar meu registro, e eu também sou analfabeto, então nunca quis correr atrás. Sempre andei para cima e para baixo sem documento, acabei me acostumando”.

O jovem conseguiu passar a maior parte da vida sem precisar se identificar. Dos sete aos 18 anos, trabalhou com o pai adotivo vendendo melancia. Com uma rotina de trabalhar em roça, carregar o caminhão e vender a fruta na rua, Jeferson não foi matriculado em uma escola.

A frustração logo se fez presente. “Na escola, eu nunca entrei para escrever em um livro, caderno, nada”. Quando completou 18 anos, decidiu buscar algum registro que comprovasse a própria identidade.

Motivado pelos amigos, o jovem pediu o prontuário médico de nascimento ao Hospital de Base de Porto Velho. No entanto, recebeu a notícia de que o hospital havia perdido os registros anteriores a 2002, devido a um problema no sistema.

Com isso, Jeferson procurou a DPE durante a Semana Nacional do Registro Civil, em Goiânia. Em outubro de 2022, iniciou-se o processo de registrar o jovem. Além do prontuário médico, o defensor público, Marco Túlio Félix Rosa, buscou informações de registro nos sistemas de identificação civil tanto de Rondônia quanto de Goiás. Contudo, não teve sucesso.

Em setembro de 2023, o Ministério Público solicitou um exame de DNA entre Jeferson e os supostos três irmãos biológicos, já que os pais haviam falecido anteriormente. A confirmação foi de quase 100% do vínculo genético entre os irmãos.

Em fevereiro de 2024, foi solicitado, novamente, o registro tardio. Em junho, Jeferson, finalmente, foi reconhecido pelo Estado.

Já equipado com o documento necessário, Jeferson deseja recomeçar a vida. “A primeira coisa que eu vou fazer, quando a minha identidade ficar pronta, é uma matrícula numa escola para eu poder estudar e aprender algumas coisas que eu não sei ainda, como escrever com letra cursiva. E a ler mais”, disse.

Na sequência, planeja tirar Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para trabalhar dirigindo caminhão, no Pará, junto com o pai.

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