‘Restauração’ da imagem de Nossa Senhora das Dores em Pirenópolis causa revolta em fiéis 

Peça, datada do século XVIII e tombada pelo Iphan, perdeu características marcantes do visual original

Thiago Alonso Thiago Alonso -
‘Restauração’ da imagem de Nossa Senhora das Dores em Pirenópolis causa revolta em fiéis 
Imagem de Nossa Senhora das Dores passou por restauração polêmica. (Foto: Reprodução)

O assunto não tem sido outro em Pirenópolis e região: fiéis se revoltando com a nova restauração da imagem, datada do século XVIII, de Nossa Senhora das Dores, exposta na igreja Nossa Senhora do Rosário.

A santa, que representava a cena em que Maria, mãe de Jesus, que assistia o filho ser crucificado na cruz, agora possui uma nova roupagem, um tanto quanto polêmica.

Com um novo visual,, a imagem agora possui um batom rosado, blush bem marcado nas bochechas, cabelo clareado e as sobrancelhas, que antes expressavam todo pesar pela perda de Jesus, agora parecem mais arqueadas.

A santa ainda perdeu detalhes na pele, que antes era mais escura e possuía contornos que davam mais sentido à cena, além de também ter perdido as lágrimas de sangue — um dos símbolos mais marcantes da peça.

Não o bastante, Nossa Senhora das Dores parece ter ‘fechado’ mais os braços, que antes expunham um coração em chamas perfurado por uma espada, deixando o item mais ‘escanteado’ e escondido por trás do véu da imagem.

Antes e depois da imagem de Nossa Senhora das Dores. (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Repercussão

Tal mudança causou revolta nos fiéis pirenopolinos, que estão há pouco mais de uma semana da Semana das Dores, onde a imagem passaria por uma procissão nas ruas da cidade.

“Olha o que fizeram com o rosto da obra-prima que nós temos em Pirenópolis, não tem o que dizer com uma coisa dessa, o coração está partido”, diz um morador do município, em um áudio que tem circulado nas redes sociais.

“É muito triste, é deprimente ver umas coisas dessas, escondida, na calada, ninguém sabia que iam fazer isso com nosso patrimônio”, completou, indignado.

Em outro áudio, um fiel diz estar “horrorizado” com a restauração, afirmando que irá denunciar o ocorrido às autoridades competentes.

“Estou absurdado (sic) e horrorizado com o atentado à imaginária sacra-perinopolina. Isso não é atentado somente ao patrimônio imaterial, não. Isso é atentado contra a fé e a religiosidade”, destacou outro.

“Isso é um atentado contra o patrimônio material, o imaterial e a imaginária, a imaginária da fé de cada perinopolino. Isso é um absurdo, isso é crime, isso tem que ser denunciado. Cadê o Iphan? Cadê as autoridades? Alguém tem que ser responsabilizado por isso”, finalizou.

O que dizem os envolvidos?

Durante a produção desta reportagem, o Portal 6 teve acesso a um ofício do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que encaminhou uma denúncia sobre ocorrido à Diocese de Anápolis, responsável pela Igreja Matriz de Pirenópolis.

No documento, o órgão declarou não ter sido informado à necessidade de restauro da peça, que é tombada como patrimônio desde 1941, o que coube a tomada de “medidas céleres para contenção do agravamento do estado de preservação”.

Por conta disso, o instituto definiu um prazo de 15 dias para que a Diocese de Anápolis preste esclarecimentos sobre a restauração, assim como a apresentação de um cronograma de ações para a recuperação da imagem.

Também ao Portal 6, a Diocese de Anápolis afirmou ter tomado conhecimento do ocorrido, informando que disponibilizará a santa ao Iphan, para que as devidas análises técnicas possam ser realizadas.

Além disso, a administração católica se colocou à disposição para colaborar com os órgãos responsáveis, reforçando “compromisso na promoção do cuidado e da valorização do patrimônio histórico-religioso, fundamental para a cultura e a fé”.

Leia a nota na íntegra:

“A Diocese de Anápolis tomou conhecimento dos fatos relacionados à descaracterização de uma imagem sacra histórica na cidade de Pirenópolis (GO). Diante disso, reafirma seu compromisso fiel com a preservação do patrimônio histórico, artístico e religioso, ciente de sua importância cultural e espiritual para as comunidades locais e para toda a sociedade.

Informamos que a referida imagem será disponibilizada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a fim de que os devidos esclarecimentos e análises técnicas sejam realizados.

A Diocese de Anápolis coloca-se à disposição para colaborar com os órgãos responsáveis e reforça seu compromisso na promoção do cuidado e da valorização do patrimônio histórico-religioso, essencial para a cultura e a fé.”

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