Cidade brasileira já foi maior que muitas capitais e hoje quase ninguém lembra

Um passado surpreendente que desafia os olhares para além dos grandes centros

Gabriel Yuri Souto Gabriel Yuri Souto -
Cidade brasileira já foi maior que muitas capitais e hoje quase ninguém lembra
(Foto: Divulgação)

Quando se pensa em cidades de destaque no Brasil do século XIX, as habituais lembranças são Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

Mas havia no Norte Fluminense, naquele tempo, uma verdadeira metrópole da produção açucareira: Campos dos Goytacazes. Em 1873, seu recenseamento urbano registrou 19.520 habitantes e rural 69.305, totalizando 88.825 pessoas — o que o coloca como um dos maiores municípios do país na época.

No cenário imperial, fugindo à lógica de desenvolvimento que vigorava mais tarde, Campos despontava. Isso porque, segundo estudos, ela “ficava no nível dos grandes centros nacionais … classificada como 4.º município brasileiro em população” no período imperial, à frente de muitos que hoje são vultos urbanos.

O motor dessa ascensão foi o açúcar. A região reunia centenas de engenhos — em 1875 contabilizavam-se 245 em torno de Campos — e utilizava intensamente a mão de obra escrava. A engenhosa localização junto ao Rio Paraíba do Sul e ao litoral favorecia a exportação direta para Europa e Estados Unidos.

Ali, a aristocracia agrária impunha poder e infraestrutura: ferrovias, iluminação pública e até sistema de água tratado — raridades para o Brasil daquele século.

Mas o que mudou?

Com o fim da escravidão em 1888 e a intensificação de produção em outras regiões, o ciclo açucareiro entrou em declínio. A concorrência nacional e os custos elevados de produção alteraram a centralidade de Campos.

Ao longo do século XX, a cidade deixou de figurar entre os gigantes urbanos, sendo superada por megalópoles que se desenvolveram em torno do café, da indústria e dos grandes fluxos migratórios.

Hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campos dos Goytacazes tem cerca de 483.551 habitantes, o que o coloca como quinta cidade mais populosa do estado do Rio de Janeiro — e a maior em extensão territorial no estado, com mais de 4.000 km².

No entanto, o brilho de outrora ficou no passado — raramente a cidade aparece entre as grandes narrativas de urbanização brasileira, embora sua relevância histórica tenha sido imensa.

Reconhecer essa trajetória é mais do que um exercício de memória: é perceber como os padrões econômicos, sociais e territoriais mudaram no Brasil. Campos dos Goytacazes foi, por décadas, um epicentro agrário-exportador, poderoso do Império brasileiro. Hoje, ela segue ativa — universitária, industrial, com fatia no petróleo da Bacia de Campos —, mas sem o protagonismo nacional dos séculos passados.

Em um país cuja história urbana frequentemente se concentra nos mesmos centros, vale lembrar que há cidades que lideraram a nação em seus dias áureos. E Campos é uma delas — com seu passado de engenhos, navios-vapor, eletricidade pioneira e população que já rivalizava capitais.

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Gabriel Yuri Souto

Gabriel Yuri Souto

Redator e gestor de tráfego. Especialista em SEO.

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