Filho de faxineira passa em medicina e vai ao trabalho da mãe para fazer surpresa

Além dos comentários maldosos, André precisou lidar com condições adversas para os estudos

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Filho da faxineira Vilenilde Arruda, André foi ao trabalho da mãe para contar que passou em medicina (Foto: Arquivo pessoal)Filho de faxineira passa em medicina e vai ao trabalho da mãe para fazer surpresa
Filho da faxineira Vilenilde Arruda, André foi ao trabalho da mãe para contar que passou em medicina (Foto: Arquivo pessoal)

Matheus Rocha, do RJ – André Ramon teve mais um motivo para comemorar no dia de seu aniversário de 26 anos. Naquele 10 de agosto, o jovem recebeu a notícia com a qual sonhava desde que era adolescente -após seis tentativas, ele conseguiu passar no curso de medicina da Ufac (Universidade Federal do Acre).

“Fiquei anestesiado quando soube. Parecia que eu tinha saído do meu corpo. Era algo que, às vezes, parecia distante e que nunca ia chegar. Mas, de repente, meu nome estava ali na lista. Foi o dia mais feliz da minha vida.”

Parte desse dia foi registrado e, à época, viralizou nas redes sociais. O jovem decidiu ir ao trabalho da mãe, a faxineira Vilenilde Arruda, para fazer uma surpresa.

No vídeo, gravado por um vizinho dele, André anda em direção à mãe para contar a notícia. Antes, porém, diz que seu objetivo não era uma ilusão, mas sim um sonho muito difícil. Os dois, então, se abraçam emocionados.

A frase que antecedeu a notícia não veio à toa. André lembra que, ao falar sobre o desejo de ser médico, pessoas próximas o desencorajavam.

“Sempre existiram críticas. Me chamavam de vagabundo. Quando completam 18 ou 19 anos, filho de pessoas pobres precisam trabalhar. Como medicina é um curso difícil de passar, a gente tem que se dedicar integralmente”, explica André, acrescentando que, por isso, não tinha um trabalho de carteira assinado, embora fizesse alguns bicos.

“Isso fazia com que eu não fosse bem-visto pelas pessoas. Além de vagabundo, me chamavam de inútil, porque eu não trabalhava.” A críticas, porém, não o desmotivavam. Pelo contrário. Elas serviam de estímulo.

“Eu tinha de mostrar que elas estavam erradas. Quando passei, muitas dessas pessoas vieram me parabenizar.”

Além dos comentários maldosos, André precisou lidar com condições adversas para os estudos. O mais velho de seis irmãos, ele mora com a família em uma casa de madeira no bairro Jardim Brasil, em Rio Branco.

Com frequência, a casa esquentava de forma excessiva no verão, o que atrapalhava os estudos. Somado a isso, ele não tinha internet em casa, cenário que complicava ainda mais a preparação para o vestibular.

O jovem driblou esses problemas graças à ajuda de amigos, que permitiam que ele estudasse em suas casas. Uma dessas pessoas chegou a pagar cursos para que André ficasse mais perto de realizar o sonho de ser médico.

O acreano conta que começou a nutrir esse desejo por volta dos 15 anos. Naquele momento, porém, não se achava capaz de alcançar o objetivo. “Eu via a nota de corte alta e, na época, eu não sabia fazer multiplicação com vírgula nem tinha acesso à internet. É uma realidade totalmente diferente daquela de quem passa”, diz o jovem. “Então deixei esse sonho guardado na caixinha e fui ver outras possibilidades.”

O sonho voltou a ficar forte a partir de 2014, quando foi aprovado em engenharia florestal, também na Ufac. Na universidade, ele teve contato com o curso de medicina e conheceu pessoas da área.

Uma greve em 2015 foi o componente que faltava para André trancar a faculdade e se dedicar de vez à preparação para o vestibular de medicina.

As aulas ainda não começaram, mas ele já tem planos para o futuro. “Eu me imagino ajudando pessoas mais carentes. Falta médico, porque muitos não querem ir para áreas distantes dos grandes centros”, diz ele. “Quero levar serviço especializado a pessoas que não têm acesso.”

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