Vida real: goianos contam sobre decisão de deixar as redes sociais após excesso de exposição

Vidas perfeitas e excesso de informações chegaram a impactar o sono e até relacionamentos

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Vida real: goianos contam sobre decisão de deixar as redes sociais após excesso de exposição
Rosyelem Oliveira relata melhora na saúde após saída das redes (Foto: Arquivo pessoal)

Em um mundo onde a presença digital parece inevitável, muitos goianos estão repensando o uso das redes sociais. O impacto desse ambiente, repleto de informações constantes e imagens perfeitas, está afetando a saúde mental de milhões de usuários. Segundo o relatório Digital 2024: Brazil do We Are Social e Meltwater, o tempo médio do uso diário do brasileiro é de 9h13.

“O uso exagerado vai nos afastar da realidade, vai causar ansiedade pela comparação que fazemos com uma realidade criada e forçada que vemos nas redes sociais”, explicou ao Portal 6 a psicóloga Maria Paula Faria.

Entre as pessoas afetadas pelo cenário está Isadora Ribeiro, uma jovem goiana de 25 anos, que optou por abandonar as redes sociais em busca de equilíbrio. Isadora lembra de sua primeira interação com as redes. “Eu acesso às redes sociais tem muito tempo… lembro do Orkut, acho que foi em 2009, quando eu tinha uns 10 anos”, compartilha à reportagem.

Desde então, sua presença online cresceu, acumulando perfis em diferentes plataformas. A princípio, parecia algo natural e necessário, principalmente quando começou a trabalhar com redes sociais. No entanto, essa interação constante trouxe desafios inesperados.

Durante os anos em que trabalhou com redes como social media, Isadora chegou a passar até 12 horas diárias conectada, seja para cumprir suas obrigações profissionais ou por lazer. “Eu trabalhava durante cinco horas nas redes, mas continuava consumindo conteúdo depois. Era como se você estivesse num restaurante para trabalhar e, mesmo após o fim do expediente, continuasse lá por mais 6 horas”, descreve.

O cansaço emocional e mental logo se tornou evidente. Isadora se sentia sobrecarregada, como se nunca conseguisse se desligar completamente. “Ficava muito estressada, muito ansiosa. Às vezes eu dormia e parecia que minha cabeça estava cheia, carregada”, relata. O volume de informações, especialmente as negativas, contribuiu para esse desgaste. Como alguém que trabalhava com notícias, ela se via constantemente imersa em manchetes perturbadoras, o que intensificava sua ansiedade.

A decisão de se afastar das redes não foi fácil, mas necessária. “Foi exatamente isso, cansaço. A rede social é difícil, você começa a ver muita coisa que não quer e acha que vai acontecer com você. Eu não conseguia dissociar isso da minha realidade”, revela. Desde que deixou as plataformas, Isadora experimenta melhorias notáveis. Seu sono, antes afetado, voltou ao normal, e ela sente que conseguiu recuperar o controle de sua vida.

Quando questionada sobre a possibilidade de retornar às redes sociais, Isadora é categórica: “Não, isso para mim não dá mais. Eu já atingi meu limite. Se eu voltasse, me causaria muito dano”.

Rosyelem Oliveira, de 33 anos, nutricionista, também enfrentou uma relação problemática com as redes sociais. Ela admite que seu comportamento nas plataformas se tornou quase viciante. “Mesmo quando estava com amigos e família, eu queria filmar, tirar fotos para postar. Não aproveitava os momentos de verdade. Devia liberar muita dopamina, porque era viciante. O tempo passava sem eu perceber”, relata.

A pressão constante das redes sociais também afetava a autoestima de Rosyelem. “Eu ficava achando que eu não vivia, aue aquilo era viver. Às vezes, eu pensava se as pessoas tinham aquela vida perfeita mesmo, aquele corpo perfeito ou rosto sem nem uma marca”, relatou.

A nutricionista percebeu que estava desperdiçando tempo com algo que considerava fútil e vazio. Após se desconectar, ela passou a aproveitar melhor a vida, retomando atividades que ama, como andar de bicicleta e fazer trilhas. Uma de suas maiores conquistas foi completar a trilha de 16 km na praia do Matadeiro, em Florianópolis, um percurso que exige preparo físico e concentração.

A escolha de se afastar das redes é apoiada pela psicóloga. “As medidas principais para ter uma relação mais saudável é olhar para a vida ao redor, se dedicar mais à vida e sair um pouco do celular. Até excluir alguns aplicativos. Essas medidas podem ajudar, mas o principal é entender por que está buscando fugir da própria realidade”, finaliza.

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