O jornal americano The Washington Post não vai apoiar qualquer candidato à Presidência dos Estados Unidos na eleição marcada para 5 de novembro. A decisão, anunciada nesta sexta-feira (25), rompe com décadas de tradição na qual a publicação escolhia um presidenciável para endossar.
O CEO do Washington Post, William Lewis, escreveu em editorial que a publicação tampouco deve apoiar candidatos nas próximas disputas à Casa Branca. Segundo ele, o jornal “está retornando às suas origens”.
Desde 1976, o Post, como a publicação é conhecida, apoiava um candidato à Presidência -naquele ano, o jornal endossou a candidatura de Jimmy Carter, do Partido Democrata. Em 2020 e em 2016, as eleições mais recentes, a publicação também optou por apoiar democratas: Joe Biden e Hillary Clinton, respectivamente.
Ao anunciar a decisão de não manifestar apoio no pleito atual, Lewis diz que essa era a prática antes de 1976. A exceção foi a disputa de 1952, quando o jornal endossou o republicano Dwight Eisenhower. O The Washington Post foi fundado em 1877.
Lewis diz esperar críticas com a decisão desta sexta. “Reconhecemos que isso será lido de várias maneiras, incluindo como um endosso tácito a um dos candidatos ou como uma condenação a outro.
Ou ainda como abdicação de responsabilidade. Isso é inevitável”, escreveu.
“Não vemos dessa forma. Vemos isso como algo consistente aos valores que o Post sempre defendeu e ao que esperamos de um líder: caráter e coragem a serviço da ética americana, veneração pelo Estado de Direito e respeito pela liberdade humana em todos os seus aspectos.”
O CEO afirma que é função do jornal transmitir notícias apartidárias, além de “opiniões instigantes” para ajudar que os leitores decidam por si mesmos. “Acima de tudo, nosso trabalho como jornal da capital do país mais importante do mundo é ser independente”, diz.
Marty Baron, que foi editor-executivo do Post, foi um dos críticos da decisão. Para ele, ao não manifestar apoio na disputa, a publicação demonstra uma “falta de coragem perturbadora”. “Isso é covardia, e a democracia é a vítima. Trump verá isso como um convite para intimidar ainda mais o proprietário Jeff Bezos (e outros)”, escreveu ele na plataforma X, em referência ao bilionário que é dono da publicação.
Críticos dizem que o candidato republicano representa uma ameaça à democracia. Em 6 de janeiro de 2021, ele estimulou uma multidão a invadir o Capitólio para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden. A adversária do empresário é a democrata Kamala Harris, que na quarta descreveu o rival como um fascista, perigoso e inadequado.
Em setembro, o The New York Times, outro jornal americano influente, publicou um editorial defendendo o voto na candidata do Partido Democrata à Casa Branca, a vice-presidente Kamala Harris.
O artigo foi publicado após o jornal defender a desistência de Joe Biden da corrida eleitoral, em junho, e se posicionando em longo texto contra a volta de Donald Trump ao poder em julho, dizendo que o ex-presidente “não está apto a liderar”.
O New York Times, fundado em 1851, tradicionalmente se posiciona em editoriais a favor de candidatos à Presidência -e não apoia um candidato republicano desde 1956, quando, assim como o Post, defendeu o voto em Dwight Eisenhower.