Cinema nacional, Oscar, Fernanda Torres e a cultura em Anápolis
Ainda não conseguimos criar, localmente, a sensação de orgulho e pertencimento que a arte merece, mas ainda podemos


Essa semana, tenho ouvido por todo lado em Anápolis dois assuntos de forma muito forte: o fim do Arraiana e a alegria de podermos ganhar um Oscar.
Ainda que uma parte significativa das pessoas com quem conversei não tenham assistido “Ainda estou aqui”, filme em que Fernanda Torres vive a história de Eunice Paiva, que vê o desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar, todas estavam motivadas com a possibilidade do Brasil levar um Oscar hoje a noite.
Isso me fez pensar em como quem faz cinema em Anápolis tem conseguido, ainda que com dificuldade, conquistar uma história que provavelmente você não conhece: nos últimos anos, o cinema na cidade movimentou cerca de R$ 4 milhões através de aprovação em projetos de incentivo público, ou na parceria público-privada, movimentando mais de 1.200 pessoas com a geração de empregos.
Foram produções cinematográficas, a construção de uma sala pública de cinema para a cidade, cursos formativos para capacitação de elenco, produção de roteiro, festivais, mostras e exibições gratuitas para a comunidade. Muita gente daqui, inclusive, recebeu premiações importantes do cinema, apesar do desconhecimento geral sobre os feitos.
Tal qual Fernanda Torres, que desde o início de sua carreira discute sobre os investimentos em cultura no Brasil, a cidade ainda discute o “que” e “como” fazer com o recurso público que deve ser destinado à cultura.
O anúncio do prefeito Márcio Corrêa (PL) sobre o fim do Arraiana, por exemplo, trouxe uma constatação: grandes shows têm sua importância, mas a cadeia produtiva da cultura local é grande demais e vive há muitos anos sem o destaque que merece.
Ainda não conseguimos criar, localmente, a sensação de orgulho e pertencimento que a arte merece, mas ainda podemos.
Que o resultado de hoje a noite impulsione localmente e nacionalmente o consumo das produções realizadas por gente da gente e que outros que sonham em fazer arte também tenham a chance de acessar os recursos e oportunidades disponíveis: na música, na dança, no teatro, nas artes visuais e no cinema. É clima de copa!