Conheça Alonso Lopes, vendedor que manteve uma livraria por meio século no coração de Anápolis

História construída em quatro endereços contou com sabedoria, itens dos mais diversos e muitos amigos

Natália Sezil Natália Sezil -
Conheça Alonso Lopes, vendedor que manteve uma livraria por meio século no coração de Anápolis
Imagem mostra Alonso Lopes e a Livraria Marília. (Foto: Arquivo Pessoal/Natália Sezil/Portal 6)

Vários gibis, CDs dos mais diversos, LPs difíceis de achar e livros usados de todos os tipos. Esses e outros itens preenchem as prateleiras da Livraria Marília, que ocupa locais no coração de Anápolis há cerca de 50 anos.

O extenso acervo e a história vivida ao longo de meio século são o legado de Alonso Lopes, anapolino que faleceu em janeiro deste ano, aos 85 anos.

No Dia do Livreiro, o Portal 6 conversou com Ambrosina Lopes, esposa de Alonso, que fica hoje atrás do balcão da livraria. Ao contar que o marido “nasceu para vender” e que “ele vendia melhor do que ninguém”, ela o define como sábio, cuidadoso e responsável.

“Tem que ter muita sabedoria para ter uma livraria“, afirma. A fala vai de encontro ao que Alonso também pensava. O profissional mencionou, em uma entrevista de 2023, que não começaria um empreendimento novo sem o conhecimento que adquiriu ao longo das últimas décadas.

“A experiência de cinquenta anos é uma coisa, mas quem abre agora é outra. Hoje em dia não valeria a pena”, contou. O comércio, inclusive, começou como uma gráfica, ainda na década de 1970.

Vida marcada pelos livros

Gráficas e livrarias foram as únicas experiências profissionais vividas por Alonso Lopes. Ambrosina revelou que ele começou a trabalhar muito cedo, ainda com 14 anos, em uma gráfica de Anápolis. Depois, se mudou para Brasília, onde continuou no mesmo ramo.

Ao retornar à cidade, montou a própria unidade – nomeada Marília, em homenagem à filha do casal. Com o tempo, a Gráfica Marília se tornou Bazar Marília, à medida que novos produtos foram compondo o estoque. O nome ainda é utilizado por clientes de longa data.

Há 50 anos, Alonso Lopes mantém a Livraria Marília em funcionamento. (Foto: Samuel Leão/Portal 6)

Vista com carinho por muitos anapolinos que frequentaram o local, o comércio acabou se tornando a “segunda casa” de Alonso, como compartilha a esposa.

“No começo, ele abria até dia de domingo. Trabalhava de segunda a sexta, no sábado até 13h, e no domingo até 12h. Vinha todos os dias”, revela.

O costume de aparecer cedo e ir embora tarde se manteve com os anos: “chegava cedo e ia embora às seis da tarde, quando fechava. Viajar com o Alonso era uma luta. Ele ia, mas contrariado, porque fechava a loja”.

Ambrosina conta que, hoje, dois meses após a partida do marido, sente a presença dele mais na livraria do que na própria casa.

Coração tricolor

À reportagem, Ambrosina compartilhou que um dos principais lazeres de Alonso era o futebol, a que ele assistia com frequência. Questionada sobre qual era o time pelo qual o marido torcia, a resposta na ponta da língua foi o Flamengo, o que passou para um dos filhos.

Mas, no cenário local, o time do coração era o Anápolis. “O cunhado dele jogava lá”, explica. A ida ao estádio, após o casamento, foi substituída pelas transmissões na televisão: “ele sabia que eu não gostava”.

Legado

Por meio da Livraria Marília, Alonso foi conhecido por muitos e fez diversos amigos. Como revela a esposa, “o velório dele estava cheio”. Apesar do contato frequente com os clientes, a notícia demorou a chegar para alguns, e uma história específica ficou marcada.

“Teve um senhor que veio aqui, cliente antigo, e perguntou: ‘cadê meu amigo?’. Contei que ele tinha falecido, o senhor começou a chorar. ‘Ele era meu grande amigo’.”

O comércio já ocupou quatro endereços no coração de Anápolis, no setor Central. Alonso já havia contado: “eu fui o primeiro [a ter uma livraria] aqui em Anápolis. O primeiro a mexer com disco de vinil em Goiás.”

[Na Avenida Goiás] eu fiquei uns 13 anos. Na esquina de cima, mais 12. Sempre por aqui. E, em frente à escola, fiquei 20.” Na rua Rui Barbosa, próximo ao Mercado Municipal, foi onde começou a história da livraria. Foram 15 anos no endereço.

Agora, o comércio segue com outro dono. A decisão ocorreu há cerca de um ano, e quem deve “tocar o negócio” é um advogado jovem, que estudou na cidade.

A expectativa de Ambrosina é que o novo proprietário mantenha o estabelecimento. “Seria a coisa mais feliz para o Alonso se ele soubesse que a livraria continuou”, conclui.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.