Professor Fumaça: de pegador de bolas no CRA a um dos maiores instrutores de tênis em Goiás
Trajetória de Ueslei Vieira dos Santos foi interrompida pela luta contra o câncer de peritônio

Ueslei Vieira dos Santos. Ou melhor, Professor Fumaça. Foi assim que ficou conhecido o morador de Anápolis que começou a trajetória profissional ainda criança, aos sete anos, pegando bolas no Clube Recreativo Anapolino (CRA) e que acabou se tornando um dos maiores instrutores de tênis em Goiás.
Ueslei viveu 50 anos. Teve a vida interrompida por um câncer de peritônio – tipo raro da doença que se mostra agressivo. A luta não impediu que deixasse um legado: fez amigos por onde passou, colecionou ex-alunos de todas as áreas e deixou a quem quisesse o gosto pelo tênis e beach tennis.
Fumaça faleceu no último domingo (14). O legado, entretanto, segue vivo – tanto nas memórias de quem pôde conhecê-lo quanto em uma das quadras onde mais lecionou, no Residencial Sun Flower. Desde sábado (13), a principal quadra de tênis no condomínio leva o nome dele.
Uma homenagem a todas as aulas e conselhos que deu. O torneio onde recebeu o tributo foi um dos poucos em que não esteve, devido à doença. Os amigos deixam claro: o professor quase respirava o tênis.

Ueslei era caridoso, carismático e “tinha o coração muito bom”, segundo os amigos. (Foto: Arquivo pessoal)
A trajetória
Vamos voltar para o início. Aos sete anos, Ueslei começa a frequentar a Sede Campestre do CRA. Filho de Vera Lúcia dos Santos e neto de Grigoria Pereira dos Santos, ele começou a vida no Jardim Alvorada, a apenas algumas ruas de distância.
Fator essencial. “Toda vida gostou do esporte e sempre focou no tênis”, contou a família ao Portal 6. Ainda pequeno, ele começa a auxiliar os professores: pega as bolas que caem fora da quadra e aproveita os intervalos para “bater bola” com os profissionais.
Pouco a pouco, Ueslei se mostra autodidata. José Gustavo Athayde, amigo há 22 anos, pontuou: “ele aprendia por observação. Tinha jeito pro tênis e logo começou a dar aulas”.

Ueslei, José Gustavo e amigos. (Foto: Arquivo pessoal)
Aproximadamente aos 30 anos, Fumaça se torna professor. Conquista alunos de forma natural: ensina um, é apresentado a outro, e logo está lecionando famílias inteiras. Vai virando amigo, com o tempo.
“Começava dando aula para os pais, depois para os filhos. Sempre muito jeitoso com as crianças”, conta José Gustavo. “Conheci ele na quadra de tênis do condomínio. Estava ensinando um colega, me apresentou e acabei virando aluno”.
Como pessoa, Ueslei foi caridoso, carismático e com um coração muito bom. Foram essas as palavras escolhidas por Leonardo Sipriano, ex-aluno e amigo há 15 anos, para descrever Fumaça.
“Duas ou três vezes por ano ele doava cestas de alimentos. Tinha uma amizade surreal. Sempre foi um ótimo conselheiro, me ajudava muito com conselhos de relacionamento, família…”, relembrou.
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Ueslei e Leonardo. (Foto: Arquivo pessoal)
E para quem queria encontrar o professor, a resposta costumava ser fácil: bastava procurar nas quadras, nos torneios e nas competições entre amigos.
“No final de semana, continuava jogando. Ia curtir com os alunos, jogar por diversão. Dentro e fora das quadras, quem conhecia se apaixonava”, afirma Leonardo.
José Gustavo tem memórias semelhantes. “Doze anos atrás, começamos a ir para o Rio Open, um torneio que reúne Rafael Nadal, Carlos Alcaraz… fomos em um grupo de sete pessoas. Amigos, meu filho, professores. Eu e o Ueslei fomos todos os anos desde então, e ele ainda aproveitava para dar dicas”, rememora.
Quanto à preferência por tênis ou beach tennis, é difícil dizer. Parecia gostar dos dois igualmente.

Ueslei, mãe dele, Vera Lúcia, Leonardo e família de Leonardo. (Foto: Arquivo pessoal)
O diagnóstico
Aos 49 anos, Fumaça começa a emagrecer. Os amigos logo notam. “Ele não sentia vontade de comer. Foi em uma consulta e um dos alunos fez exames”. A resposta seria desanimadora: câncer de peritônio, um tipo raro da doença que atinge a membrana que reveste o estômago e outros órgãos.
“A dor era muita. De descer água do olho”. Foram aproximadamente seis meses entre o diagnóstico e o falecimento. Leonardo o acompanhou ao hospital durante todo esse tempo.
“E ele se manteve firme”. Pouco tempo após saber da doença, uma viagem que mais pareceria uma despedida. “Fomos para Caldas Novas, ficamos no apartamento de um outro aluno dele. Ele estava feliz pela viagem, mas dava para perceber que era uma despedida. Depois disso, foi só luta”.
Mesmo com o câncer, Ueslei quis continuar dando aulas. Só foi impedido pelos alunos, que fizeram uma reunião e tentaram oferecer mais um recurso para apoiar o tratamento.
“A preocupação dele tinha que ser com a doença, não financeira”, lembra José Gustavo. Leonardo é categórico: “se não tivéssemos intervindo, ele continuava dando aula mesmo doente, porque gostava”.
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