Como foi crescer nos anos 60 e 70: infância mais dura, mas cheia de histórias inesquecíveis

Uma volta no tempo para descobrir por que essa época, embora marcada por privações, foi terreno fértil para laços, autonomia e memória

Gabriel Yuri Souto Gabriel Yuri Souto -
Como foi crescer nos anos 60 e 70: infância mais dura, mas cheia de histórias inesquecíveis
(Foto: Reprodução)

Quando foi que a infância deixou de ser feita de rodinhas no meio da rua, de bicicletas sem freio e de carros lotados atrás do volante sem cinto de segurança?

Para quem cresceu nas décadas de 60 e 70, essa era a normalidade, às vezes dura, mas carregada de pequenas aventuras que moldaram gerações.

A vida infantil daquele tempo tinha contornos bem diferentes do que vemos hoje: menos redes de proteção, mais joelhos ralados; menos tecnologia, mais criatividade. A urgência do dia a dia chamava as crianças para crescer mais cedo e aprender fazendo e caiu em muitas vezes.

Práticas comuns, autonomia precoce

Naquele tempo, era comum as crianças irem sozinhas à escola, atravessarem bairros distantes de bicicleta e voltarem antes do anoitecer, sem um aviso no celular para tranquilizar os pais.

Segundo relatos de pessoas nascidas nos anos 60, as brincadeiras diárias reservavam “pau de rolimã, amarelinha, pique e tanto chão de rua”.

Com menos eletrônicos e mais tempo livre, o tédio virou matéria-prima para a imaginação. Os muros e calçadas transformavam-se em palcos de brincadeiras criativas, as bicicletas em conquistas de liberdade, e os tombos serviam para ensinar equilíbrio — corporal e emocional.

Esse tipo de experiência moldou a independência e o senso de responsabilidade de muitos que são adultos hoje.

Mas a liberdade era acompanhada de rigidez — social e institucional. As escolas públicas viviam sob a lógica da Ditadura, com ênfase no disciplinar, no cívico e no funcional às demandas do mercado.

A Lei 5.692, de 1971, que reorganizou a educação básica, reforçou uma escola voltada à formação de “trabalhadores competentes”, não necessariamente cidadãos críticos.

Nessas salas de aula de quadro negro, quem não tinha condições muitas vezes nem chegava a ser matriculado — era o caso de crianças do campo ou de periferias, para quem a escola não representava opção real.

Segurança mínima, resiliência máxima

Não existiam assentos com cadeirinhas no carro, nem ciclomotos com capacete. Brinquedos sofisticados então, nem pensar. O risco fazia parte do dia-a-dia. Mas havia também outra coisa: a ausência de conforto forçava a criatividade e ensaiava a resiliência.

Além disso, havia um perigo invisível: a exposição a substâncias tóxicas. O chumbo presente na gasolina e na tinta, comum até os anos 70, deixava vestígios duradouros. Hoje, sabemos que isso contribuiu para prejuízos no desenvolvimento neurológico de milhares de crianças.

Com o tempo, políticas públicas e a eliminação gradual do chumbo da gasolina — iniciado depois da década de 1970 — ajudaram a mitigar esse problema.

Para quem viveu essa infância, os sacrifícios de então têm sabor de aprendizado. Sim: foi uma época mais dura. Mas foi também quando se aprendeu a consertar a bicicleta quebrada, a contar com a comunidade de vizinhos, a inventar brincadeiras e a valorizar o “suficiente”.

Muitos passaram por limitações — de acesso à escola, à cultura ou à segurança. Ainda assim, crescer nesses anos exigia coragem, inventividade e uma confiança num futuro que precisava ser conquistado.

Talvez por isso, hoje, essas pessoas carreguem consigo uma bússola interna de resistência, criatividade e senso de valor sobre o que realmente importa.

E essas histórias, longe de serem simples nostalgias, formam parte da memória coletiva — necessárias para entendermos não só o que perdemos, mas também o que permanece vivo em cada pessoa que passou por essa infância.

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Gabriel Yuri Souto

Gabriel Yuri Souto

Redator e gestor de tráfego. Especialista em SEO.

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