Brasília e Goiânia são as capitais com mais radares de velocidade por frota no país, diz estudo
Dados fazem parte de levantamento inédito produzido pelo Observatório Nacional de Segurança Viária
FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Brasília é, proporcionamente a sua frota, a capital do país com mais radares de velocidade instalados. Os dados fazem parte de um estudo inédito produzido pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, em parceria com a UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Chamado de Indicadores Brasileiros sobre Fiscalização de Velocidade, o levantamento, de 89 páginas e apurado durante o ano de 2023, será apresentado nesta terça-feira (25).
Os dados sobre os equipamentos foram extraídos de relatórios de verificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
O documento mostra que na capital federal há 7,5 câmeras fixas para flagrar quem excede os limites da via para cada 10 mil veículos fiscalizados.
Na contramão, Florianópolis tem o pior indicador, de 0,08 radar para o mesmo grupo de veículos.
Em nota, a prefeitura da capital catarinense afirma que está realizando estudos técnicos e preparando termo de referência para contratar controles de velocidade, avanço de sinal e parada sobre a faixa de pedestres nos principais pontos viários de Florianópolis.
“Esses estudos vão apontar quais os pontos críticos e quais os tipos de controle poderão ser adotados e instalados na Capital, desde que tragam avanços significativos nos aspectos tidos como prioritários”, afirma trecho do texto. A previsão é de contratar o serviço no primeiro semestre de 2026.
O município diz trabalhar com uma série de estratégias para trazer mais qualidade, fluidez e segurança à mobilidade do município.
Brasília apresenta uma particularidade na comparação com as capitais dos estados. O levantamento mostra que o indicador de equipamentos é maior em rodovias (5,92) que em vias urbanas (1,58).
Entre as capitais estaduais, Goiânia ocupa o segundo lugar no ranking geral, com 5,83 radares para cada 10 mil veículos, sendo que nas vias urbanas o número é de 4,75 (em rodovias no município, o indicador cai para 1,08).
A cidade de São Paulo, onde está registrada a maior frota do país em 2023 eram cerca de 9,5 milhões de veículos, de acordo com o Ministério dos Transportes, ocupa apenas o 18º lugar na classificação do estudo, com 1,64 radar para cada 10 mil veículos.
Com cinco lombadas eletrônicas informadas no site da prefeitura, Vera Cruz (RS) é citada no estudo por ter o maior nível geral de fiscalização eletrônica de velocidade do Brasil.
A cidade, de pouco mais de 26 mil habitantes, localizada na região central do Rio Grande do Sul e a 165 km da capital Porto Alegre, tinha 20,5 mil veículos registrados, sendo que 11,5 mil eram automóveis.
Fora o Distrito Federal, Goiânia aparece em primeiro lugar no ranking geral (4,6) entre as unidades da Federação e o Amazonas têm o menor número (0,12). Em 14º, o indicador de São Paulo é de 1,83.
Questionado sobre os dados, o governo do Amazonas não respondeu até a publicação deste texto.
A média nacional é de 2,9 câmeras para cada 10 mil veículos.
VELOCIDADE AUMENTA RISCOS
Para André Correia, coordenador nacional de fiscalização de trânsito da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária, o governo federal deveria equalizar as ações de fiscalização de velocidade no país.
“Excesso de velocidade é perigoso em qualquer lugar do mundo, é infração de trânsito tanto no Sul quanto no Norte”, afirma. “A OMS [Organização Mundial da Saúde] cita que o principal fator de risco para sinistros, sequelas e mortes é o excesso de velocidade.”
Ele lembra que no caso de um atropelamento, o corpo humano suporta um impacto a no máximo 30 km/h. “Acima disso, a ocorrência pode ser fatal ou deixar sequelas graves, diz a própria OMS.”
No Brasil, considerando os dispositivos que estão em funcionamento no período do levantamento, cerca de 94% das câmeras eram fixas (24.937) e 6%, portáteis (1.455).
Entre as fixas, 50,5% estavam em vias urbanas e 49,5% em rodovias.
Além das diferenças regionais, Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária, afirma que o levantamento concluiu que onde existe maior densidade de radares há menos mortes por causa de sinistros de trânsito.
“Também aponta que quanto mais equipamentos, menor é o número de multas por radar. Ou seja, isso gera comportamentos mais seguros [de motoristas]”, afirma.
De acordo com o estudo, no país cada câmera detecta cerca de 1.500 infrações de velocidade, podendo variar de cerca de 700 no Rio Grande do Sul a até em torno de 4.500 no Amazonas.
Além do “pardais”, como são chamados os radares em postes, o documento cita ações diversas para aumentar a segurança no trânsito, como implementação de áreas com limite de velocidade a 30 km/h e estreitamento de vias, entre outros.
Segundo Guimarães, o trabalho nasceu quando os pesquisadores tentaram entender mais sobre a relação da velocidade no trânsito com as mortes de motociclistas.
O documento, que teve a como parceiro na elaboração a Abeetrans (Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito), indiretamente aponta uma das principais dificuldades de fiscalizar a velocidade de motocicletas. Ele cita uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), de 2020, proíbe uso de radares móveis em vias onde a velocidade é inferior a 60 km/h.
“A fiscalização de motos só é eficiente quando feita com radares móveis”, diz Guimarães.
A faixa azul, sinalização viária para circulação exclusiva de motos, em teste na cidade de São Paulo desde 2023, está instalada em ruas e avenidas com limites de velocidade de 50 km/h e 60 km/h.
Conforme o Observatório de Segurança Viária, o próximo passo é apresentar o relatório para estados e municípios.
“Os números permitem avaliar cobertura, densidade e desempenho da fiscalização, identificar lacunas e orientar investimentos em mobilidade segura”, diz o CEO da organização.
“É imprenscindível que gestores públicos utilizem dados e evidências no planejamento da fiscalização”, afirma André Correia, da Bloomberg.
AÇÕES QUE PODEM REDUZIR VELOCIDADE
– Implementação de áreas com limite de 30 km/h
– Implantação de lombadas, ilhas de refúgio, extensões do meio-fio, calçadas e ciclovias, faixa de pedestre elevadas, interseções elevadas, rotatórias, redução de velocidade nas entradas das cidades e estreitamento da via
– Fiscalização dos limites de velocidade
Fonte: Indicadores Brasileiro sobre Fiscalização de Velocidade







