Não existe dinheiro público
“Não vamos pensar que o Estado pode fazer projetos generosos e achar que existe um dinheiro público diferente do dinheiro privado. O dinheiro público nasce do dinheiro privado, precisamente dos tributos.”
A frase acima é do presidente Michel Temer, citando Margaret Thatcher (ex-primeira ministra britânica).
E qual é a importância dessa frase tão óbvia? Por que é preciso lembrar que o dinheiro público é, na verdade, a soma dos dinheiros privados que escoam para os governos por meio de impostos, taxas e contribuições?
Nelson Rodrigues, nosso filósofo mais importante, dizia que apenas os profetas enxergam o óbvio. E o óbvio, quase sempre, costuma gritar sem ser sequer ouvido.
Portanto, cabe aqui uma aplaudir a obviedade da declaração presencial. Sim, nosso presidente falou o óbvio e, por essa razão, beirou a genialidade política, a eternidade calcificada num estadista pleno.
Dinheiro público vem do dinheiro privado. Do dinheiro do bolso de cada cidadão. Do dinheiro suado, de parte daquele monte de troco que se recebe na compra do pão.
Sim, é o pagador de tributos que financia os governos, que remunera autoridades, que faz com que a vida em sociedade seja possível.
É o pagador de tributos que torna real a vida como a conhecemos. Na boa: é o dinheiro de cada um de nós que faz fortunas e misérias.
O dinheiro é um só. Público ou privado; sujo, lavado ou limpo; fácil ou de mão beijada; muito ou pouco.
E é o dinheiro de cada um que faz o país, o estado e a cidade. O papel da política é sempre dizer que falta dinheiro. E o papel do óbvio, que ainda não foi dito, é dizer que sempre há dinheiro demais para resultados tão poucos.
Rodolfo Torres é advogado (pós-graduando em Direito Tributário), jornalista e autor do livro Bob Fields Forever (coletânea de frases do parlamentar Roberto Campos). Escreve todas as sextas. E-mail: [email protected]