Vacinação de adultos e idosos é insatisfatória, diz entidade de imunização

Entre as doenças que trazem mais preocupação pela falta de vacinação entre as pessoas dessas faixas etárias estão a rubéola, o sarampo, a pneumonia e o HPV

Da Agência Brasil Da Agência Brasil -
Vacinação de adultos e idosos é insatisfatória, diz entidade de imunização
Vacinação contra a gripe. (Foto: Agência Brasil)

Para a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a vacinação de adultos e idosos ainda é insatisfatória no Brasil. Por causa disso, diz a entidade, muitas doenças que estavam eliminadas do país, como o sarampo, a rubéola e a poliomielite, acabam retornando e trazendo preocupações.

“Além da vacinação permitir a proteção do indivíduo, ela ainda evita uma situação como a que a gente viveu no Ceará: a gente estava para eliminar o sarampo e vimos o sarampo voltar porque quem começou o surto, que conseguimos depois reverter com a vacina, foram os adultos não vacinados. E quem adoeceu em nosso país de febre amarela? O adulto que não estava vacinado e, principalmente, o homem. Se é difícil vacinar o adulto, o adulto homem é ainda mais difícil”, disse Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em entrevista à Agência Brasil durante o III Fórum de Especialistas em Vacinação do Adulto e do Idoso, realizado nesta quarta-feira (18), em São Paulo.

Segundo Isabella, muitas doenças fatais para idosos poderiam ser evitadas. “Adulto morre muito de doença que pode ser evitada com vacina – como a pneumonia, que é uma das principais causas de óbito de idosos; e a hepatite B, que é uma doença sexualmente transmissível e o maior de 60 anos está bombando de doenças sexualmente transmissíveis”, disse.

Na avaliação da presidente da entidade, a vacinação de adultos e de idosos no país é “tão baixa” que os números nem são conhecidos. “Enquanto temos um controle bem importante da vacinação dos menores de um ano no Brasil, a gente não sabe – fora as campanhas de gripe e de gestantes contra a coqueluche –  qual a cobertura do brasileiro. Estamos muito longe do que precisamos”.

Já a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues, lembra que a vacinação de adolescentes, adultos e idosos ainda é recente no país e por esse motivo, os números ainda são baixos: “A vacinação do adolescente, do idoso e do adulto é muito recente. A do adolescente começamos agora, em 2014. Então, se olharmos o número seco [de pessoas dessas faixas etárias que são vacinadas], ele é baixo. Mas temos que pensar que estamos começando agora. Então temos um longo caminho pela frente”.

Carla também alertou para os riscos da baixa imunização dessa faixa etária no país. “O sarampo foi eliminado agora, em 2016, graças a essa vacinação de longa data em crianças e em adultos. No entanto, o sarampo ainda é endêmico em muitos países da Europa e da Ásia. Então, se hoje você for visitar a Itália, está tendo um surto de sarampo lá e, com esse fluxo de pessoas, seja pelo turismo seja pelo comércio, pode reintroduzir essa doença [no Brasil] se nós pararmos de vacinar”.

Entre as doenças que trazem mais preocupação pela falta de vacinação entre as pessoas dessas faixas etárias estão a rubéola, o sarampo, a pneumonia e o HPV. “Precisamos ter a população vacinada para que possamos eliminar e manter controlada muitas doenças”, disse Carla.

Para a representante da Sociedade Brasileira de Imunização, essa baixa vacinação de adultos e de idosos decorre principalmente da falta de informação. Isabella conta que muitos adultos acham que, se tomaram vacinas quando crianças, não precisam mais ser vacinados: “A maioria das vacinas que hoje a gente tem, que a criança toma hoje, nós adultos não tomamos. ‘Eu tomei todas as vacinas, minha mãe sempre me levou ao posto’ [dizem os adultos]. Mas ele tomou três ou quatro vacinas. Hoje são 15. Além disso, tem vacina que não protege para a vida toda. Então é preciso tomar reforços. E tem vacinas que são feitas para o adulto, para doença como herpes-zóster [erupções na pele causada pela reativação do vírus da catapora]”.

Rede pública

Para Isabella, além da falta de algumas vacinas na rede pública, o problema maior é que os adultos e idosos não procuram os postos de saúde. “Tão importante quanto conseguir incluir uma vacina [no calendário de vacinação] é conseguir que essas pessoas procurem a vacinação porque senão podemos ter o que está acontecendo com os adolescentes: a faixa etária do [público alvo] HPV está sendo estendida temporariamente porque a vacina vai vencer e a gente não teve adesão. Vacina na geladeira, sem a pessoa ir lá tomar a vacina, é dinheiro no lixo”, ressaltou.

A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações nega que as vacinas estejam indisponíveis na rede pública. “Todas as vacinas que estão disponíveis no calendário do Programa Nacional de Imunizações estão disponíveis nas 37 mil salas de vacinação do nosso país e do SUS [Sistema Único de Saúde]”.

Segundo Carla, o adulto ou idoso que deseja atualizar sua caderneta de vacinação, precisa apenas procurar um posto de saúde. “Toda vez em que o adulto for se dirigir a um posto de saúde ou a um médico, deve levar a caderneta de vacinação porque o médico poderá avaliar se há alguma vacina incompleta ou se não tomou alguma dose e vai poder atualizar essa caderneta de vacinação”, disse.

“É importante que a população tenha conhecimento de que vacina hoje não é só uma ação infantil, mas em qualquer fase da sua vida você tem pelo menos uma vacina que diz respeito à sua idade”, alertou Carla.

Segundo Isabella, a Sociedade Brasileira de Imunização pretende criar um grupo para discutir como incentivar a vacinação de adultos e de idosos. Uma ideia, segundo ela, é buscar apoio de empresas para que, assim como ocorre com as crianças nas escolas, os adultos sejam vacinados ou orientados sobre a vacinação em seus locais de trabalho.

“Hoje é um começo. Vai sair um documento de tudo o que a gente discutiu aqui hoje e aí a SBIM vai convocar as sociedades médicas de especialidade, a enfermagem e representantes dessas sociedades para formar grupos que vão se encontrar periodicamente em busca de tarefas como a melhoria do ensino médico e de enfermagem em relação à vacinação e como melhorar o acesso”, disse.

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