Alunos ficam 5 horas trancados em academia para tentar escapar de blitz do lockdown

Responsáveis, segundo a força-tarefa, fecharam as portas ao verem a chegada dos fiscais, que não só decidiram ficar no local à espera da saída dos alunos como chamaram reforços para a ação

Folhapress Folhapress -
Alunos ficam 5 horas trancados em academia para tentar escapar de blitz do lockdown
Veículos da Polícia Militar, Guarda Civil Municipal e Vigilância Sanitária aguardam alunos deixarem academia que funcionava ilegalmente em Franca (Foto: Divulgação)

Marcelo Toledo, de SP – Às 16h desta quarta-feira (2), agentes da Patrulha Covid, criada pela Prefeitura de Franca (a 400 km de São Paulo) para fiscalizar o descumprimento das medidas restritivas na pandemia, chegaram a uma academia na avenida Champagnat, uma das principais da cidade, que funcionava de maneira irregular.

Os responsáveis, segundo a força-tarefa, fecharam as portas ao verem a chegada dos fiscais, que não só decidiram ficar no local à espera da saída dos alunos como chamaram reforços para a ação. Chegaram equipes da Polícia Militar, Vigilância Sanitária e Guarda Civil Municipal, que já representavam dez veículos nas horas seguintes. E nada de os alunos saírem da academia.

Houve inclusive trocas de turnos das equipes de fiscalização, feitas no próprio local, até que, cinco horas depois, os responsáveis e alunos, num total de 23 pessoas, começaram a deixar o imóvel, um a um, com os rostos cobertos. A saída ocorreu após a chegada de um advogado.

“Não digo [que foi] a ação mais significativa porque todas refletem em algum impacto sanitário. Mas com certeza é a ação que mais demandou tempo, energia e recursos humanos durante este período de lockdown”, disse Mariela Toscano, responsável pelas Vigilância Sanitária e Ambiental da Secretaria da Saúde de Franca.

Segundo ela, as equipes têm recebido muitas denúncias diárias, inclusive no feriado desta quinta-feira (3), de tentativas de furar o lockdown decretado na cidade para tentar conter a disseminação do coronavírus. “Estamos com denúncias inclusive de indústrias calçadistas funcionando.”

A academia foi interditada pela Vigilância Sanitária e os alunos foram autuados por descumprirem as restrições decretadas pela prefeitura.

A reportagem procurou a academia por meio do contato divulgado por ela em redes sociais e a questionou sobre o ocorrido, mas não houve resposta.

As ações desenvolvidas pela Patrulha Covid, nome dado ao grupo criado pelo prefeito Alexandre Ferreira (MDB), são diárias e foram ampliadas desde a decretação do lockdown na cidade.

Fiscais já chegaram a ser recebidos em festas por uma pessoa com uma arma na mão, mas até então não tinham precisado esperar cinco horas para fazer uma autuação como na noite desta quarta-feira.

Além da interdição da academia, foram feitos no mesmo dia autos de infração a supermercados e uma barbearia e expedidas seis notificações, a comércio ambulante, supermercados (dois), farmácia, restaurante e quadra de basquete.

Outras 11 denúncias sem procedência foram checadas, em mercado, fábrica de calçados, supermercados e festas.

Nesta quarta, a cidade de 355 mil habitantes alcançou 696 óbitos na pandemia, com 30.522 casos confirmados da Covid-19, com aumento na procura de pacientes pelo pronto-socorro Álvaro Azzuz, que tem concentrado os atendimentos a casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 na rede municipal de saúde.

De acordo com o médico Rafael Talarico, diretor técnico da unidade, passaram pelo local 480 pessoas, 71 a mais que o total da véspera, e 57 pacientes com Covid aguardam no local a transferência para hospitais.

Desses, 31 são casos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com 11 deles intubados, e 26 esperam por vagas em enfermarias.

O lockdown decretado em Franca vai vigorar até o dia 10 e fechou praticamente tudo na cidade, incluindo supermercados, farmácias, lojas e indústrias calçadistas.

A administração, porém, é alvo de uma série de ações judiciais para tentar reverter o fechamento. As indústrias de sapatos, por exemplo, entraram com uma ação para abrir as fábricas, mas a medida foi negada pela Justiça.

Na decisão, o juiz Aurélio Miguel Pena afirmou que “na ausência de vidas, não haverá consumo, e, sem consumo, não haverá produção”, ao indeferir o pedido de liminar do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca).

Curtumes chegaram a obter liminar, mas ela foi derrubada. Uma rede de supermercados conseguiu autorização judicial para abrir suas lojas.

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