Todas as sextas-feiras, lembro dela!

“Tenho 13 anos de idade. Não convivo com meu pai. Moro com minha mãe. Aliás, morava com a minha mãe. Hoje sexta-feira, 3 de agosto de 2021, ela foi esfaqueada na minha frente e sangrou até morrer. Tentei evitar esse desfecho fatal mas não consegui”.
“Tenho 11 anos de idade. Cego dos dois olhos. Minha mãe é o meu tudo e me acompanha pegando na minha mão, abrindo caminho onde ando. Aliás ela foi o meu tudo, porque há 40 dias estávamos viajando e tivemos um acidente de trânsito. Minha mãe faleceu ao meu lado. Mesmo sem enxergar, procurei por ela e dei o último beijo na mão que foi os meus olhos”.
A vida não está fácil. Dois testemunhos “fictícios” mas baseados em fatos reais. Quanta dor e sofrimento! Tantas famílias dilaceradas! Tristeza e choro. Como lidar com a tragédia? Como lidar com o coração enlutado? Como juntar um corpo despedaçado e com gemidos inexprimíveis?
Há 10 anos, toda sexta-feira ao entrar no IML lembro dela! Anoitece e amanhece, lembro dela! Fazendo necropsias, imaginando ela! Vendo filhos gritando de dor e lembrando dela!
Afinal, lembro de quem? Da morte!
Lembro de que agonizados com ela, devemos ser capazes de compreender a profundidade do amor e admitirmos que somos falíveis e não podemos mais cuidar, e ser cuidado por quem a morte levou.
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José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo PSB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.
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