Um Líbano dentro de Anápolis: imigrantes árabes se estabeleceram no município e transformaram a cidade
Primeiro deles chegou muito antes da fundação formal da cidade, que tem até rua tradicional
Comemorado nacionalmente nesta segunda-feira (22), o Dia do Líbano representa um grande marco na história brasileira.
É aqui que se localiza a maior comunidade libanesa de todo o mundo, com cerca de 10 milhões de descendentes, segundo o Programa das Nações Unidas.
Ainda de acordo com os dados do programa, o país de origem atualmente conta com uma população de cerca de 6 milhões de habitantes. Ou seja, menor do que a herança que hoje vive no Brasil.
E Anápolis não é exceção desse cenário, muito pelo contrário, na verdade. O município foi uma das referências na imigração libanesa e os frutos desta relação podem ser presenciados até os dias de hoje.
Foi o que explicou o historiador e professor de História Moderna na Universidade Estadual de Goiás (UEG), Pedro Sahium, em entrevista ao Portal 6.
Coincidentemente, a família do profissional foi uma das primeiras a sair do Líbano e construir moradia em Anápolis, ainda em 1910.
Parte da história
Porém, até mesmo antes disso, os árabes já criavam laços com a cidade. Tanto é que o primeiro deles chegou até aqui em 1905, antes mesmo da emancipação do município, que até então era um distrito de Pirenópolis.
O historiador também contou como, de pouco a pouco, a comunidade sírio-libanesa ganhou as ruas de Anápolis através da forte veia do comércio, uma das culturas mais marcantes deste povo.
O crescimento se consolidou a partir de 1935, com a chegada da estrada de ferro, que tinha Anápolis como o último ponto dentre as paradas do interior.
Até os dias de hoje é possível reconhecer estabelecimentos comerciais mantidos pelos parentes destes precursores árabes, especialmente no Centro da cidade.
Mas e os turcos?
Essa ligação com o comércio ocasionou o surgimento de uma expressão que ficou bastante reconhecida localmente, e até mesmo em outros locais com influência árabe, que é a de “rua dos turcos”.
“É a denominação usada para se referir àquela ruazinha da cidade que se dedica ao comércio e é repleta de lojinhas árabes. Em Anápolis, se trata da Rua General Joaquim Inácio”, explicou Pedro.
O problema, entretanto, é que nada daquilo veio, de fato, dos turcos.
“É um equívoco de etnias. Eram povos de origem sírio, libanesa ou palestina. O que acontece é que eles vinham com o passaporte chancelado pelo governo turco, que dominava a região até o final da I Guerra Mundial, em 1918”, complementou.
A confusão era, inclusive, motivo de ofensas para os árabes, que eram oprimidos pela dominância turca na época.
Mounir Naoum
Um dos maiores exemplos de libaneses que tiveram sucesso em Anápolis é Mounir Naoum, que chegou ao município em 1948 para trabalhar com os tios e conseguiu construir um verdadeiro império a partir disso.
O que começou como uma imigração em contexto de guerra, logo se tornou uma oportunidade de empreender dentro do mercado do arroz que, por sua vez, virou referência no âmbito de construção tanto de Anápolis, quanto de Goiânia e Brasília.
Pedro Sahium foi um dos responsáveis pela escrita da biografia do homem que ficou conhecido na cidade como o “encantador de pessoas” e tem o lançamento da obra previsto para o próximo dia 30.