Dependente do Cerrado, agronegócio goiano é afetado diretamente pela destruição do bioma
Além de causar danos graves à biodiversidade local, retirada de matas pode tornar cultivo insustentável em Goiás
O agronegócio é um um dos principais motores da economia de Goiás. Contudo, o desmatamento do Cerrado, proporcionado pelo modelo financeiro, pode causar prejuízos sérios para a indústria agropecuária local.
Em conversa com o Portal 6, a professora Elaine Barbosa da Silva, do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) explicou que a retirada da vegetação nativa gera diversos danos ambientais que reverberam na população.
“Tudo é interligado. O primeiro impacto que temos é na questão hídrica, havendo falta de abastecimento para os municípios e com o regime de chuvas ficando menor e irregular, com chuvas intensas que causam danos”.
“A longo prazo, o solo também vai sendo degradado e a produção entra em colapso, deixando de ser abundante. Não vai haver nem clima favorável, nem água que possa garantir mais de uma safra no ano”, complementou.
Além da falta de água e degradação do solo, a especialista apontou que o aumento de processos erosivos – como desabamentos de terra -, e um clima com temperaturas mais altas são consequências da destruição do Cerrado.
“[Conforme a vegetação nativa é retirada] a tendência é que os dias de calor se tornem mais frequentes e mais intensos”, destacou Elaine.
A professora, que também coordena o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da UFG (LAPIG), explica que o Cerrado ainda conserva cerca de 54% de sua cobertura vegetal original.
Contudo, ela explicou que esse percentual é problemático, visto que as áreas conservadas são afastadas umas das outras.
“Elas estão muito fragmentadas. Ao fazer a recuperação dessa área, essa fragmentação não garante a biodiversidade de fauna e flora que são necessários para fazer a recomposição”.
Elaine Silva aponta que ainda existem muitos pontos em Goiás que seria possível ampliar e recuperar a vegetação nativa. Porém, o exato oposto está ocorrendo, em decorrência do agronegócio.
“No entorno dessas áreas de preservação, como por exemplo o Parque Nacional das Emas, tem se expandido a pastagem e o plantio de commodities (como soja e milho). Essas áreas, que poderiam ajudar, acabam sendo comprometidas”, explicou a pesquisadora.