O que está por trás dos comportamentos agressivos de alunos com volta às aulas presenciais em Goiás
Pesquisa aponta que 65% dos professores observam mudanças de comportamento. Entre elas, dificuldade em seguir regras
Os alunos estão mais agressivos na retomada às aulas presenciais em Goiás, segundo os professores. Para 65% deles, a violência nas escolas aumentou após dois anos em atividades remotas por causa da pandemia.
O resultado é de uma pesquisa feita pela Nova Escola, organização social que atua para apoiar profissionais da educação básica. O estudo foi divulgado pela instituição dias antes de uma professora ter sido morta a facadas em Inhumas, região Metropolitana de Goiânia, no último dia 24.
De acordo com a Polícia Militar, o suspeito do crime é um ex-aluno da mulher. Ele teria agido por vingança ao ser repreendido pela educadora em sala de aula e por tentar vender drogas nas imediações da escola.
Entre os motivos apontados pela pesquisa para o crescimento da violência no ambiente escolar está o aumento das doenças psicológicas por conta do isolamento (50,6%) e a influência negativa dos familiares em virtude da vulnerabilidade que eles vivem (46%). A falta da socialização dos alunos durante a pandemia também é um fator para 40,5% dos entrevistados.
A psicopedagoga Leandra Ferreira explica que, somado aos fatores, os estudantes estão com dificuldades de aceitar regras. “Com as aulas virtuais, esse aluno se acostumou a fazer as coisas do jeito que ele queria e sem uma supervisão física. Por mais tecnologia que tivessem, os professores não tinha mensurar o que ele estava fazendo, e muitos não tinham o acompanhamento da família”, aponta.
Além da violência, o processo de atenção e concentração também foi comprometido. E é o celular o principal culpado. “Na pandemia, o aparelho era, ou deveria ser, uma ferramenta pela qual ele acompanhava a aula. Agora, não há mais limite entre o estudo e o entretenimento. E se você tenta impedi-los de usar, ficam agressivos”, relata.
Acolhimento
Para mudar este cenário, a profissional indica o investimento em orientação psicológica nas escolas. “Na instituição em que trabalho estamos em processo de contratação de mais dois psicólogos porque uma só não está conseguindo atender a demanda. No início do ano para cá, temos notado essa necessidade”, afirma.
Leandro Ferreira aconselha, ainda, que coordenadores e docentes tenham uma visão mais de acolhimento perante os estudantes. “Alguns perderam entes queridos ou passam problemas financeiros. Temos que tentar entender e, a partir deste entendimento, levar o aluno a refletir sobre a origem deste comportamento e as consequências dele”, orienta.