Entidades que defendem autistas e população LGBTQIA+ apontam leniência do MP em acordo com influencer

Larissa Barbosa vai pagar R$ 10 mil e cumprir outras sanções, mas grupos ofendidos queriam mais

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Entidades que defendem autistas e população LGBTQIA+ apontam leniência do MP em acordo com influencer
Larissa Barbosa fechou um acordo com o MP pelos crimes cometidos. (Foto: Reprodução/Instagram)

Entidades que representam grupos ofendidos pela influenciadora digital Larissa Barbosa criticaram o acordo oferecido pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) à ela.

Larissa ofendeu autistas e também homossexuais em um vídeo publicado nos stories do Instagram. O caso ganhou grande repercussão e, para que não chegasse a juízo, o MPGO propôs à influenciadora o pagamento de R$ 10 mil e algumas outras exigências. Ela aceitou.

Para Juliana Francis, mãe de uma criança com autismo e fundadora da Casa Joana, a indenização cumpre um papel importante. Porém, ela cobra da influencer comparecimento a uma instituição especializada no cuidado de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Acredito que se também desse a oportunidade delas aprenderem em uma instituição especializada em autismo, como a Casa Joana, ela iria transformar o preconceito dela em informação e quem sabe também se solidarizar realmente com a vivência das mães que tanto lutam pela inclusão verdadeira dos filhos “, pontuou.

“Se elas tivessem que fazer um trabalho social , acredito que teria como complemento para aprender sobre as diferenças”, completou.

Juliana ainda acrescenta que “nós, mães de pessoas com deficiência, temos sempre essa disponibilidade de informar o próximo , isso é para nós como uma forma de deixar para os nossos filhos um mundo melhor sem preconceito , nosso objetivo é acolher e ensinar , com certeza as mães não iriam julgar pelo erro cometido é sim dar informação certa”.

Por outro lado, o presidente da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB Anápolis, Alex Costa, destaca que o Ministério Público deveria ter realizado uma análise criteriosa da situação financeira de Larissa Barbosa antes de se chegar a um acordo.

“Creio que o Ministério Público deveria ter feito uma análise na vida financeira da agressora, como conta bancária, bens móveis e ou imóveis, movimentação financeira, rendimentos, para assim, ter um valor razoável e ponderado a fim de indenizar as vítimas, que foram várias, ela cometeu um crime discriminatório contra um coletivo, contra várias pessoas com o espectro autista e suas famílias que também se sentiram agredidas”, apontou.

Além disso, o advogado também aponta ter achado desproporcional que a quantia arrecadada com o acordo seja entregue para a Apae de Goiânia, já que a influenciadora digital é de Anápolis.

“Outro ponto que foi desproporcional no acordo de não persecução penal ofertado pelo Ministério Público de Goiás, é que quem será beneficiado pelo valor a ser pago pela agressora, será a APAE de Goiânia. Deveria ter direcionado esse valor para a APAE de Anápolis”, destacou.

“Por mais que o crime ocorreu em Goiânia, esse ponto diz respeito apenas à competência do Juízo para processar a ação penal, o domicílio da agressora é em Anápolis, e a APAE de Anápolis carece mais do que a de Goiânia, por haver menos doadores e contribuições”, complementou.

LGBTQIfobia

Um outro apontamento feito pelo advogado Alex Costa, diz respeito à não condenação pelo crime de LGBTIfobia. No vídeo em questão, ele lembra, a influencer brinca que a vaga “é tão colorida que parece de veado”.

O especialista aponta que o representa ministerial que formulou as condições do acordo considerou a fala homofóbica como “elementares periféricas”, invisibilizando as pessoas pertencentes à classe.

“O MP não reconheceu o crime de racismo na modalidade LGBTIfobia, e o representa ministerial que formulou as condições do acordo, disse que a fala homofóbica de Larissa, é “elementares periféricas”, ou seja, a comunidade LGBTQIA+ é “periférica” como se não merecesse também ser reparada judicialmente pela agressão proferida por Larissa”, afirmou.

“É lamentável e inaceitável essa invisibilidade institucional e um atentado contra a dignidade humana e à existência das pessoas pertencentes a comunidade LGBTQIAPN+”, completou.

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