Às vésperas da eleição, motoristas de aplicativo em Goiânia contam o que mais tem incomodado

Casos de agressões verbais e físicas por conta de preferências políticas vêm ocorrendo com frequência durante as viagens na capital

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Miguel Veloso, líder da categoria em Goiânia. (Foto: Arquivo Pessoal)

À medida que a eleição se aproxima, a polarização e os pedidos de voto entre os goianienses vão aumentando. No transporte por aplicativo, os motoristas viraram alvos de embates políticos devido à busca por apoio a candidatos por parte dos passageiros. 

Além de tentarem conquistar o apoio da classe – que já soma cerca de 27 mil condutores só em Goiânia – os clientes tentam, a todo custo, manipular a ideia por meio de agressões físicas e até verbais. É o que diz o líder da classe, Miguel Veloso. 

Ao Portal 6, o mediador da categoria conta que, nos últimos dias,  as discussões dentro dos transportes por aplicativo vêm se intensificando ao ponto de ocorrer ataques físicos e verbais.

“Já relataram algumas agressões morais. Teve até alguns depoimentos de que, após a discussão, o cliente desceu sem pagar”, diz. 

Para tentar contornar a situação, Miguel tem repassado algumas dicas a fim de proteger a integridade dos motoristas. 

“ A gente sempre está orientando para que eles não entrem em debate, exerçam e tratem o veículo como se fosse o escritório deles. A gente tem que entender que eles são clientes e tem que ser compreendidos”, diz. 

Com medo de sofrer retaliações devido ao posicionamento político, os trabalhadores têm adotado neutralidade quando questionados. 

O motorista da Uber Gustavo Ramos, de 26 anos, é um dos que decidiu mudar a postura para evitar discussões. Ao Portal 6, ele conta que, durante a semana, notou que a frequência de perguntas sobre qual candidato ele apoia aumentou significativamente.

Para fugir dos embates, o profissional passou a não revelar o voto, com medo de se tornar mais uma vítima de violência política. 

“Diante dos acontecimentos, que vamos acompanhando nos noticiários e na internet, eu prefiro não falar sobre minha preferência para não virar motivo de debate”, confessa. 

Segundo ele, outros condutores também relataram um aumento nas perguntas, mas optam por não manifestar o posicionamento político. 

Um deles, que preferiu não ser identificado, conta que passou por uma situação semelhante. Ele diz que se sente desconfortável ao comentar a opção de voto, já que muitos passageiros tentaram coagi-lo a mudar a escolha. 

“Se entra um lulista e você fala que é bolsonarista, você tem medo de ser xingado. Se entra um bolsonarista e você fala que é Lula, é aquele preconceito. Então fico neutro, mas é meio desconfortante”, desabafa.

Mas nem mesmo a postura isenta dos motoristas é capaz de afastar as discussões. Passageiros mais ousados tentam realizar o papel de ‘cabo eleitoral’ e coagir o condutor a votar no candidato almejado. 

Segundo ele, a situação – que já virou rotina – é, na verdade, um medo ‘escondido’ do passageiro da derrota nas urnas. “É algo inconsciente e que acaba sendo um papel de influência para que o outro vote no candidato que ele quer”, opina.

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