Entenda como o veneno do sapo usado em rituais age no corpo das pessoas
Substância, que até então era inédita no Brasil, foi encontrada em Goiás e em São Paulo e era utilizada por grupo xamânico
Popularmente conhecida como “Sapo do Rio Colorado” ou “Bufo”, a substância psicodélica Bufo alvarius, que até então era inédita no Brasil, se tornou alvo da Polícia Civil (PC) e motivo de preocupação entre as autoridades, após 12 gramas da droga serem encontradas em rituais religiosos nos estados de Goiás e São Paulo.
No território goiano, a substância – proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – foi apreendida nos meses de março e abril em Goiânia e Pirenópolis. Segundo a PC, a suspeita é de que o entorpecente era utilizado pelo Instituto Xamanismo Sete Raios durante eventos espirituais que aconteceram ao longo de 2021.
Em nota publicada nas redes sociais, a instituição disse que “não possui mais qualquer ligação” com o psicodélico, além de ressaltar que o uso do produto aconteceu em uma situação eventual e psicótica. Também afirmou que não foi avisada sobre a ilegalidade da droga.
O alucinógeno é considerado um dos mais potentes do mundo e se popularizou no México e nos Estados Unidos nos últimos anos, devido ao uso em cerimônias espirituais.
Ele é extraído a partir do veneno de sapo e contém a 5-MeO-DMT, ou 5-Metoxi-N,N-Dimetiltriptamina, – que faz parte da lista F2 de substâncias da Anvisa que enquadra drogas como LSD, MDMA (ectasy) e psilocibina. O “Bufo” pode ser inalado, fumado ou aplicado na pele por meio de injeções. O efeito dura por aproximadamente 01h.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Journal of Neurochemistry, comandado por pesquisadores da Universidade Maastricht, na Holanda, a substância é capaz de causar efeitos alucinógenos, uma vez que ativa a serotonina, que é um neurotransmissor ligado ao humor e à sensação de bem-estar.
No entanto, o uso excessivo da droga pode provocar alucinações, mal-estar, náusea, ataques de pânico, paranóia, problemas respiratórios e cardiovasculares, como uma parada cardiorrespiratória, convulsões e até mesmo a morte, conforme explica o diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, Carlos Jared.
“Quando um cachorro morde um sapo, por exemplo, as toxinas corroem lentamente a mucosa e entram no sangue. Isso leva algum tempo para acontecer, então ainda é possível lavar a boca do animal e retirar o veneno. Mas fumar ou injetar o veneno bruto diretamente na circulação sanguínea é muito mais perigoso”, revela.