“Retrocesso”, afirma líder dos motoristas da Uber em Goiânia sobre contratação de trabalhadores por CLT

Decisão da Justiça quer obrigar empresa a realizar as formalizações, mas ideia não foi bem recebida entre profissionais

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
motoristas de aplicativo
Plataforma é intermediária entre motoristas e passageiros (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

A decisão da Justiça do Trabalho de condenar a Uber a assinar as carteiras de trabalho de todos os motoristas poderia significar a saída da empresa do Brasil e, consequentemente, o desemprego em massa de cerca de 50 mil goianos.

“Hoje, a Uber não é um simples complemento. É a renda principal de pais e mães de família que vão se ver desempregados da noite para o dia”, afirmou o líder comunitário da região Sudoeste de Goiânia dos motoristas de aplicativo, Miguel Veloso, ao Portal 6.

A sentença foi proferida pela 4ª Vara do Trabalho de São Paulo e vale para todo o território brasileiro, o que representa mais de 500 mil motoristas.

O motorista explicou que a categoria não sabe o que virá, mas já prevê que será danoso.

“Acho difícil o aplicativo aceitar. É mais fácil sair do país”, ressaltou. Além disso, a decisão abre precedente para outras empresas, como a 99POP, Indriver e Cabify, esta última sendo presente em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com isso, a possibilidade é de que todos os aplicativos se retirem do país, eventualmente.

“Estamos vivendo em um campo minado. Não sabemos o que vai acontecer pela frente. A plataforma não tem nada a perder ao sair do país. Quem tem a perder somos nós, profissionais”, disse Miguel.

“Profissionais por aplicativo não querem trabalhar como CLT. A liberdade de horário vai se reduzir ou até mesmo findar. Vejo isso como retrocesso”, acrescentou.

Outro ponto que ainda será analisado, mas já desanima a categoria é o salário. De acordo com o representante, é comum receber aproximadamente R$ 5 mil ao mês, em comparação com a renda regulamentada de motoristas, que é pouco mais de um salário mínimo.

“A ideia de instaurar o CLT é por causa da aposentadoria, mas vários parceiros já contribuem pelo MEI ou por fora”, apontou.

Sendo assim, taxas mais atrativas, locais de descanso com banheiros, meios de esquentar refeições e incentivo para abrir certificação de Microempreendedor Individual (MEI) são apenas alguns dos benefícios que o líder destacou como mais interessantes.

Além disso, Miguel ainda apontou que uma medida governamental que poderia ser implementada seria a de destinar verbas para a criação de aplicativos locais com condições de trabalho melhores.

Indenização

Vale destacar que a sentença determinou o pagamento de R$ 1 bilhão em danos morais, sendo que 90% será destinado ao Fundo de Amparo ao Trabalhador e os outros 10%, para as associações de motoristas por aplicativos.

No entanto, segundo Miguel, os motoristas optam por se organizar em pequenas comunidades independentes e, por isso, o valor não seria destinado aos parceiros.

“Havia uma associação em Goiânia, mas até a última notícia, ela está inativa”.

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