Com expansão desordenada, especialistas alertam sobre principais desafios para Goiânia
Soluções e formato de políticas públicas também são apontadas pelos estudiosos

Enquanto o aniversário de Goiânia se aproxima, no dia 24 de outubro, a próxima terça-feira convida a imaginar como será o futuro da capital, que cresce em um ritmo alarmante. Ao Portal 6, especialistas destacam quais seriam os principais desafios a superar nos próximos anos.
Segundo a arquiteta Anamaria Diniz, “o maior desafio é perceber que a cidade dita ‘planejada’ continua com mal de origem, que é o mito da cidade planejada”. A profissional explicou que apesar dos planos diretores, o que tem norteado o crescimento é o mercado imobiliário.
“Goiânia passa por um adensamento e verticalização desordenada. A cidade vai colapsar rapidamente”, destacou. Entre os efeitos da expansão, Anamaria ressaltou que a cidade, que possui características únicas como a presença de diversas áreas verdes e arquitetura Art Déco, está no caminho para perder a identidade.
“Temos a replicação de torres que poderiam estar em qualquer lugar. Importamos modelos que não têm nada a ver com a nossa cultura. Vemos prédios de alto luxo sem varanda e com pele de vidro. As pessoas estão fechadas nas torres de Dubai no Cerrado”, apontou.
Para além de perder a identidade, tal verticalização desordenada impacta diretamente na qualidade de vida, segundo a arquiteta. Segundo Anamaria, as praças e casas estão cercadas de torres que impedem a entrada de sol e desestabilizam o ecossistema – sem contrapartidas que visam o desenvolvimento sustentável.
“Temos problemas de fornecimento de água, coleta de lixo, quedas de energia… Imagina quando construir todos os prédios”, ressaltou.
Além disso, a mobilidade é uma questão latente a ser repensada, segundo a profissional, com exemplo do BRT, uma obra que tem se arrastado por anos. O pesquisador de filosofia e política, João Batista Valverde, também destacou o transporte como um dos principais desafios da cidade.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), explicou que Goiânia não possui uma verdadeira opção de transporte público, o que leva pessoas a buscarem soluções individuais, como a compra de carros.
Os locais densamente ocupados, como o Setor Bueno, são pontos de maior atenção, previstos para serem intransitáveis em horários de pico nos próximos anos.
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No entanto, enquanto alguns bairros recebem atenção do mercado imobiliário e, consequente, se desenvolvem, atraindo a população, outros apresentam problemas básicos, como de esgotamento sanitário, falta de iluminação e ainda calçamento inadequado, tanto no que diz respeito ao asfalto quanto às calçadas.
“Eu considero que Goiânia está crescendo de uma forma tal que vamos chegar a ser uma São Paulo daqui a uns anos. Teríamos os mesmos problemas, a menos que governantes ou a sociedade civil interferissem nos rumos desse crescimento”.
Diante disso, ambos os pesquisadores apontam que a solução seria a distribuição populacional, e, principalmente, a constituição de um conselho com participação da sociedade civil para determinar a ocupação do solo.
Segundo João, é necessário trazer atrativos à uma região para que a população se desloque, sendo escola, posto de saúde, água tratada e saneamento básico, parques, ambientes verdes, comércio, entre outros.
“Precisamos de políticos, moradores, médicos, professores… Um conselho multidisciplinar para estabelecer isso. […] Se a gente projetar para cinco anos, sem mexer no uso do solo, só vejo uma cidade cada vez menos humanizada e mais catastrófica”, finalizou.