Dentista presa em Goiânia usava as redes sociais como “trunfo” para atrair pacientes
Algumas das publicações, nas quais ela exibia as clientes antes e depois dos procedimentos, possuem mais de 500 comentários
A dentista Hellen Matias, investigada em Goiânia por deformar o rosto de pacientes em procedimentos estéticos ilegais, tinha nas redes sociais um grande trunfo. Com mais de 650 mil seguidores no Instagram, ela publicava o antes e depois de alguns casos e divulgava a venda de cursos.
A rede social servia como uma forma de passar segurança e credibilidade para outros clientes e, ao mesmo tempo, como inspiração para colegas do ramo.
“Eu sou obcecada por resultados! E busco ser melhor todos os dias, minha competição é interna, comigo mesma… eu só não resolvo se não chegar em minhas mãos. Chame meu time no direct e descubra como mudar sua carreira”, chegou a dizer ela na legenda de um dos casos expostos.
Algumas das publicações, nas quais ela exibe as clientes antes e depois dos procedimentos, acumulam-se mais de 500 comentários, nos quais ela cita que possui uma clínica também em São Paulo, na zona Sul.
Em grande maioria, as respostas são positivas e de internautas buscando informações a respeito do serviço.
Porém, após a divulgação da prisão da profissional, alguns usuários já utilizaram a plataforma para alertar outros acerca das irregularidades e perigos dos procedimentos.
“De que região você é, doutora?”, perguntou uma seguidora, sendo respondida por outra: “Cadeia, Cepaigo”. Outra fez o alerta: “gente, a mulher foi para a cadeia, tudo está vencido na clínica, vigia povo”.
Ainda em 2023, Hellen havia postado o vídeo de uma reportagem sobre ameaças, feitas por membros do Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO), contra profissionais da área.
No mesmo ano, ela foi condenada a pagar R$ 10 mil por danos morais a uma paciente, que teve o nariz deformado depois de realizar uma rinomodelação com a dentista. O laudo ainda apontou que a vítima teve uma necrose nasal isquêmica.
“Eu jamais imaginava o quanto crescer e fazer sucesso incomoda, acho que se soubesse o quanto é crime ser bom e próspero no meu país eu nem teria começado. Não inveje, busque seu lugar”, expressou ainda em uma publicação.
O Portal 6 apurou que o perfil da dentista foi deletado do Instagram na tarde desta quarta-feira (31).
O que diz a defesa
Em nota, a defesa de Hellen Matias definiu a prisão como “arbitrária e injusta”, posto que, segundo as advogadas, nenhuma determinação da Justiça havia sido violada.
Confira a nota na íntegra:
A defesa da odontóloga Hellen Matias alega que a prisão da profissional – realizada no dia 30 de janeiro – foi feita de forma arbitrária e injusta, já que a mesma não descumpriu determinação da Justiça, que a proibia de realizar cirurgias estético faciais após o dia 22 de novembro.
Segundo as advogadas Caroline Arantes e Thaís Canedo, que representam a dentista, a Justiça confundiu o procedimento realizado. A profissional – que tem a especialidade buco maxilo facial, realizou, após o dia 22 de novembro, procedimento reparador e não estético, dentro da competência da especialidade da profissional. Ela corrigiu lesão em uma paciente como uma complicação de procedimento (ectrópio) realizado anteriormente por uma outra profissional, o que é permitido pela resolução 65, artigo 41, do Conselho Regional de Odontologia (CRO).
A defesa reitera que o procedimento foi reparador, uma sutura feita na paciente para sanar uma intercorrência ocasionada por cirurgia prévia realizada por outra profissional e não uma blefaroplastia, como consta nos autos e no próprio depoimento da paciente.
Sob a condução das investigações, a defesa reclama que estão sendo veiculadas imagens de procedimentos com intercorrências que não foram realizados pela dentista Hellen Matias. Fotos que, inclusive, não são de pacientes da odontóloga, mas casos que foram levados para discussão em grupo de estudo, o que está muito claro no processo, até mesmo banco de imagens. As advogadas afirmam também que as fotos divulgadas foram descontextualizadas. Em sua grande maioria são de reações inerentes aos procedimentos e ao processo de cicatrização, como hematomas, inchaços e intercorrências normais.
A advogadas Caroline Arantes e Thaís Canedo alegam que o vazamento das imagens – que deveriam ser sigilosas, posto que não submetidas ainda ao crivo do contraditório – demonstra falta de lisura nas investigações. A propósito, o laudo do exame de corpo de delito que fundamenta a prisão da dentista comprova que não houve a execução de cirurgia estética facial pela Dra Hellen Matias, mas sim por outra profissional.
Todas essas alegações serão apresentadas pela defesa durante a audiência de custódia, que será realizada na tarde desta quarta-feira (31), no Fórum Cívil,3 Vara Criminal, mezanino, sala M 3 C, às 17 horas do dia 31 de janeiro de 2024.