Mulheres denunciam racismo após serem expulsas de carro por motorista de aplicativo em Anápolis

Vítimas afirmaram que o homem havia olhado para elas, que são negras retinstas, de forma estranha

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Captura de tela das mensagens no aplicativo de viagem. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Humilhação. Esse foi o sentimento da manicure e cabeleireira Hellen da Silva Subtil, de 28 anos, após ser desrespeitada e expulsa de um carro de aplicativo na manhã desta sexta-feira (10), em Anápolis.

A vítima, que estava acompanhada da tia, Rosimeri da Silva Souza, de 44 anos, afirma ter sido vítima de racismo pelo motorista, que desde o primeiro momento teria deferido olhares “desconfiados” para as moradoras do Conjunto Habitacional Vila União.

O caso teria ocorrido por volta das 10h26, quando a jovem pediu um veículo na Rua General Joaquim Inácio, com destino para a Avenida Minas Gerais, no bairro Jundiaí, região Central do município.

No entanto, as passageiras teriam demorado cerca de 1 minuto e 30 segundos para entrar no carro, o que deixou o condutor enfurecido, mandando diversas mensagens pelo aplicativo, reafirmando que já havia chegado no local de embarque.

Após isso, ao chegarem até o automóvel, Hellen contou que imediatamente o motorista teria olhado para elas, que são negras retintas, de uma forma “estranha”.

“Eu dei bom dia, ele não respondeu, aí minha tia deu bom dia e ele também não respondeu. Até então tudo bem, né? Achei que ele não estava em um bom dia, mas tudo bem”, relatou a cabeleireira.

Viagem conturbada

Contudo, logo após se acomodarem nos assentos, o homem teria dito, grosseiramente, que elas deveriam esperar no lugar onde pediram o carro.

A tia de Hellen, que ainda não havia percebido o tom do suspeito, ingenuamente teria apenas respondido que tinha se atrasado um pouco, pois estava pegando um documento antes de entrar no carro.

No entanto, a jovem contou que ele teria “ameaçado” elas, dizendo que, por conta do atraso, ele teria provavelmente recebido uma multa de R$ 150, que não cobriria nem mesmo a corrida, de R$ 08.

“Aí eu falei: ‘moço, o senhor podia ter cancelado, já que o senhor viu que a gente não estava aqui, você tem esse direito’”, contou a manicure.

Logo, o homem teria retrucado ela, a questionando sobre a gasolina que ele havia gastado até chegar lá.

Irritada, Hellen respondeu: “Você sabe que eu tenho cinco minutos de tolerância para entrar no carro, né?”.

Humilhação a céu aberto

Com isso, o homem teria freado o carro bruscamente e estacionado em uma calçada, abrindo a porta das passageiras e dizendo que elas deveriam utilizar estes cinco minutos para andar até o destino, obrigando que elas saíssem do veículo.

“A rua estava com tanta gente, eu fiquei com tanta vergonha, me senti humilhada, todo mundo ficou olhando para a gente”, relatou Hellen.

Assim, o motorista teria saído do local sem cancelar a corrida, simulando pelo aplicativo como se as passageiras ainda estivessem dentro do carro.

“Quando ele terminou a corrida [sozinho], eu tive que pagar com um pix, porque senão eu não conseguiria pedir outro pelo aplicativo”, explicou.

Captura de tela do aplicativo de viagem. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Após a situação, Hellen e a tia se dirigiram para uma delegacia, com o intuito de registrar o caso de racismo.

“Desde o começo eu senti um olhar meio estranho para nós duas. Tenho um cabelo bem alto, bem cheio, eu sou bem pretinha, minha tia também, eu percebi que ele ficou incomodado com isso”, disse.

No entanto, a jovem disse que não conseguiu realizar um boletim de ocorrência contra o suspeito, pois o responsável da delegacia explicou que elas não haviam sido agredidas, nem xingadas, e recomendou que elas procurassem um advogado.

Logo, Hellen contatou um profissional, a fim de abrir um processo cível contra o homem.

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