Cobras, escorpiões e piso rachado: mães questionam abandono de escola pública em Anápolis

Prefeitura alega que enviou R$ 550 mil para efetuar reparos no local, mas pais e corpo docente negam que valores tenham sido aplicados

Davi Galvão Davi Galvão -
Registros do estado precário da unidade foram enviados ao Portal 6. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem passa pela porta da Escola Municipal Inácio Sardinha de Lisboa, localizada em Interlândia, distrito de Anápolis, pode muito bem confundir o espaço com apenas mais um lote abandonado.

Isso porque mal é possível distinguir que há uma instituição de ensino ali. A placa, onde mal se pode ler alguma palavra com clareza, ostenta o nome da unidade, sobre o brasão quase totalmente apagado da Prefeitura de Anápolis, que é quem toma conta do lugar ou, ao menos, deveria.

Fachada da unidade. (Foto: Reprodução)

A realidade do local foi filmada por pais e mães de alunos que frequentam a escola, onde até mesmo os pisos das salas de aula tiveram de ser retirados, por conta da invasão de raízes de árvores, que ameaçavam acidentes entre as crianças e funcionários.

Piso de uma das salas teve de ser retirado por conta da invasão de raízes. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Até bicho perigoso já acharam lá. Foi cobra, escorpião, uma coisa assim assustadora”, revelou Cristiane Pereira Miranda de Oliveira, de 40 anoa, cuja filha cursa o 7º ano do ensino fundamental.

Cobras e escorpiões já foram encontrados na unidade, segundo pais. (Foto: Arquivo Pessoal)

Além disso, em entrevista ao Portal 6, Cristiane apontou diversos outros problemas que comprometem o funcionamento da unidade, como vigas mal estruturadas, lataria da porta com perigo de cortar, banheiros sem porta, janelas sem vidro e até mesmo a falta de piso na sala dos professores.

“Os banheiros nem porta têm. Como que as crianças podem usar, para ficar todo mundo olhando? As salas de aula, a mesma coisa. As que tem, o metal já está todo enferrujado, virou quase uma lâmina, criança quando corre ali, se passar do lado, pode pegar tétano com facilidade”, denunciou.

Para ela, “medo” é a palavra que melhor define a situação, ao pensar no que pode acontecer quando deixa a filha, logo cedo, na escola.

“A gente tá numa situação de medo, porque você leva seu filho, pensando que ele está em segurança, para aprender, mas tem a chance de uma parede cair, machucar, bater a cabeça. A gente tem medo”, disse, por fim.

Outra mãe, que preferiu não ser identificada, destacou que até mesmo o desenrolar das aulas está sendo comprometido.

“Como os intervalos são divididos entre as turmas, com os mais velhos e mais novos tendo horários separados, o ruído e barulho impede que conteúdos sejam ensinados, haja vista a falta de portas em diversas salas”, disse.

A coordenação

Coordenadora pedagógica da unidade, Joelma Alda de Oliveira Silva revelou que as preocupações das mães são legítimas e, do ponto de vista estrutural, a Inácio Sardinha está em um estado bastante preocupante.

Piso da unidade também é rachado em diversos pontos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar de atuar na unidade desde 2013, ela contou que nunca ouviu falar de nenhuma grande reforma ou manutenção na unidade, por parte do Poder Público.

“Já há um tempo, lá por 2016, precisou de a gente, da comunidade mesmo, levantarmos fundos para construir duas salas de educação infantil, mas não teve nenhum apoio da Prefeitura”, afirmou.

Ainda, ela garantiu que a direção pressiona constantemente a administração pública, cobrando por auxílio e suporte financeiro, mas que tais pedidos parecem ser infrutíferos.

Fundo para reformas

Conforme as mães e a própria coordenadora pedagógica, em 2023, através da renovação da folha salarial com a Caixa Econômica Federal (CEF), a Câmara garantiu R$ 550 mil para construção de muro e calçada na escola. A medida foi inclusive anunciada pelo vereador Domingos Paula (PDT).

Algumas mães inclusive chegaram a ir, no começo de 2024, até a sede do Poder Público, a fim de cobrar explicações. Segundo elas, foi informado de que o valor já havia sido repassado à Secretaria de Educação.

Segundo Cristiane, os trabalhos propostos na calçada e no cercamento do local nunca chegaram a ser realizados.

“O máximo que fizeram foi colocar o asfalto, há pouco tempo, que chegou até o portão, mas não é a calçada, é só o asfalto. A cerca que tem lá já é velha, ultima vez que mexeram lá faz uns 03 anos, não é dessa verba”, deixou claro.

O que diz a Prefeitura

Questionada pelo Portal 6, a Prefeitura informou que equipes técnicas estiveram na Escola Municipal Inácio Sardinha de Lisboa na última semana para uma vistoria, com o intuito de elaborar um projeto para a reforma e licitação da obra.

Ainda destacou que, recentemente, o local foi cercado e a calçada construída – informação esta que diverge tanto dos relatos das mães quanto da própria coordenadora da unidade.

Leia a nota na íntegra:

A Prefeitura de Anápolis, através da Secretaria Municipal de Obras, Meio Ambiente e Serviços Urbanos, informa que equipes técnicas estiveram na Escola Municipal Inácio Sardinha de Lisboa na última semana a vistoria que culminará na elaboração do projeto técnico da reforma geral para então licitar a obra. No local, recentemente, foi feito o cercamento e construção de calçada.

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