Com altas taxas e baixo retorno, motoristas de aplicativo em Goiânia se queixam: “profissão está se desfazendo”

Cenário cada dia mais insustentável tem levado trabalhadores a procurar outras opções de emprego

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
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Motoristas no trânsito de Goiânia. (Foto: Reprodução)

Hoje com aproximadamente 22 mil motoristas rodando em diferentes aplicativos, Goiânia perde profissionais a cada dia. Entre as taxas altas cobradas pelas plataformas e a insegurança quanto à próxima atualização, Wendel Oliveira Rocha, no mercado há oito anos, relata que o cenário tem se tornado cada vez mais preocupante e, com isso, desinteressante.

O trabalhador, de 46 anos, contou ao Portal 6 que iniciou em um aplicativo popular com o intuito de fazer da prática uma profissão. No entanto, enquanto no início, por volta de 2016, conseguia sustentar a família, hoje já não consegue. “Agora, eu faço mesmo de bico”.

Um levantamento recente do aplicativo StopClub apontou que um motorista ganha uma média de R$ 5.142,86 em Goiânia. No entanto, com despesas na ordem de R$ 3.101,36, o lucro seria de apenas R$ 2.041,50. Os números não foram confirmados pela categoria.

De acordo com Wendel, que já atuou como vice-presidente da Associação de Motoristas de Aplicativos do Estado de Goiás, o lucro médio atual é em torno de R$ 1.500. A situação daqueles que alugam carros para rodar é ainda mais preocupante, destacou. “Conversei com um pessoal próximo ao aeroporto e eu não acreditei. Falei, ‘como vocês estão conseguindo sobreviver?'”, disse.

O motorista afirmou que os custos com o carro alugado giram em torno de R$ 2.800. “Se for pôr na ponta da caneta mesmo, eu acho que tem mês que o motorista não tira nem R$ 1 mil”.

Cenário goianiense

Capital, onde se concentra grande parte dos usuários, Goiânia também apresenta uma concentração de motoristas, destaca Wendel.

Aliado a isso, tarifas altas e variáveis afetam a categoria. “O aplicativo sempre aparece com uma surpresa e, quando você vê, aquilo ali já está sendo descontado de você. Hoje, tem corrida que ela chega a tirar 43%”. Ao englobar a baixa qualidade do asfalto em diversas ruas, a manutenção do carro também entra na conta.

Para Wendel, a saída foi buscar um emprego fixo. Para outros, a saída foi a desistência. “Todo dia, alguém para. Alguns até conseguiram comprar permissões de táxi”, disse.

O motorista, que circula por dezenas de grupos virtuais de todas as regiões da capital, aponta que, apesar das reclamações, muitos ainda insistem em rodar nos aplicativos, principalmente por necessidade, uma vez que não possuem outros empregos. Contudo, uma grande parcela aguarda apenas a oportunidade para se retirar de vez das plataformas.

“Tem motorista que roda das 4h até às 16h e tira só R$ 120. E esse dinheiro volta para o tanque no final da tarde. Me constrange muito lembrar o tanto que eu me doei no início. Hoje, a gente vê essas plataformas não reconhecendo nenhum motorista, não se importando se ele tem família ou não. Está ficando inviável. Muitos estão sofrendo”, finalizou.

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