Goianas contam histórias sobre violência no trânsito pelo simples fato de serem mulheres

Pesquisa realizada pelo Detran Goiás aponta que 6 a cada 10 mulheres já foram vítimas de alguma situação crítica nas ruas

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
motoristas
Motoristas no trânsito de Goiânia. (Foto: Reprodução)

Medo. Seja dentro de casa, no trabalho, andando na rua ou até no trânsito. Mulheres goianas relatam violência em todos os ambientes, mas uma pesquisa realizada pelo Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) revela dados alarmantes sobre o trânsito: 6 a cada 10 das 1 mil mulheres entrevistadas confirmaram terem sofrido algum tipo violência.

A quantidade das motoristas que presenciaram uma agressão a outra mulher enquanto estavam ao volante é ainda maior: 74%. Os tipos  variam desde intimidações, uso excessivo da buzina, perseguições, atos obscenos, até assédios e agressões físicas. No entanto, intimidação e humilhação são as formas mais comuns.

Os casos são registrados por todos os perfis, de todas as idades, e deixam inseguranças duradouras. Mariana Alvarenga, de 25 anos, tinha acabado de receber a carteira de habilitação provisória quando teve o primeiro encontro com tal realidade.

Ao Portal 6, ela relatou que era um domingo tranquilo, com poucos carros na rua. “Eu ainda estava treinando. Eu estava realmente cumprindo as regras de trânsito, então parava nos ‘pares'”, conta Mariana.

No entanto, um motociclista que estava atrás dela não esperava que ela parasse em um cruzamento e, ao perceber que era uma mulher dirigindo, passou a xingá-la com palavras ofensivas, especialmente proferidas contra mulheres, como “vagabunda” e “vaca”. O motociclista chegou a dizer a frase ouvida por muitas: “tinha que ser uma mulher dirigindo”.

“Foi bem triste e fiquei com muito medo dele fazer alguma outra coisa, partir para a agressão física”, diz ela, ainda abalada pela lembrança.

Já Keila Favaretti, de 52 anos, não é novata no trânsito. Ainda assim, ao se envolver em um acidente – inédito ao longo das décadas em que dirige-, teve sua capacidade de direção descredibilizada a todo momento.

Enquanto dirigia em uma avenida de Goiânia, em 2023, Keila foi surpreendida por um motorista que tentou cortar pela direita e acabou arranhando toda a lateral de seu carro.

O homem, no entanto, se recusou a reconhecer a responsabilidade e afirmou que errada era ela, dizendo que Keila não sabia dirigir.

Ao seu lado, estavam três funcionários. “Os três, altos e fortes, ficaram a poucos centímetros de mim, tentando me assustar para desistir de qualquer cobrança. Tive que me afastar e exigir respeito. Eu sabia que não estava errada”, lembra Keila sobre o incidente.

Um policial logo se aproximou e se ofereceu para ser testemunha da batida, uma vez que, em nenhum momento, o motorista pontuou que se responsabilizaria.

Dias depois, após entrar com processo contra o homem para pagar o conserto, ele apareceu, sem aviso, na casa dela. O endereço residencial estava na documentação.

“Ele foi tão machista que quando chegou aqui em casa, ele nem falou comigo, nem me olhava. Ele falou com meu marido. Tive que falar ‘você bateu no meu carro. A ocasião foi comigo, não com ele'”, relembra.

O caso foi resolvido e o carro consertado, porém, não sem causar danos emocionais. “Só de lembrar, fico com raiva”, desabafa.

Onde buscar ajuda

A pesquisa do Detran aponta que 14,2% das vítimas não denunciaram as violência por desconhecimento de como prosseguir. Assim, o órgão afirmou que irá instalar uma unidade de delegacia de trânsito para atender as mulheres.

Para aquelas que se sentem violadas ou desrespeitadas no trânsito, há diversos canais de apoio e denúncia em Goiás. A Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito de Goiânia (DICT) é um dos principais pontos de contato para condutas que caracterizam crimes de trânsito e pode ser contatada pelo telefone (62) 3201-2296.

Além disso, o Conselho Estadual da Mulher também recebe denúncias pelo e-mail [email protected] e pelo telefone (62) 3201-8513. Outros recursos incluem a Central de Atendimento à Mulher (disque 180), o disque denúncia da Polícia Civil do Estado de Goiás (197), o aplicativo Direitos Humanos Brasil do Governo Federal, e a Delegacia Estadual de Atendimento à Mulher (DEAEM) disponível pelos telefones 62 3201-2801/2013 ou via e-mail [email protected].

Agosto Lilás

A pesquisa faz parte das ações ligadas ao Agosto Lilás, mês de conscientização e combate contra a violência contra a mulher. Entre as campanhas previstas, o Detran destaca “Mulher na direção, respeito é obrigação”.

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