Pacientes em tratamento contra câncer são os mais afetados com mudança no Ipasgo, denuncia Sindsaúde

Demora para liberação de exames entre outros procedimentos para beneficiários do plano são de até 30 dias

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Algumas especialidades não tem previsão de agenda para atendimento. (Foto: Divulgação / Ipasgo)

Desde a mudança de natureza jurídica que tornou o Ipasgo Saúde – antiga autarquia – em um serviço autônomo de direito privado, que ocorreu em abril deste ano, usuários do serviço têm enfrentado uma série de problemas envolvendo atrasos nos atendimentos, incluindo de pessoas em tratamento contra câncer.

As denúncias partem desde descredenciamento de pessoas terceirizadas, não funcionamento do cartão, falhas no sistema, desinformação de prestadores de serviço e demoras de até 48 horas para autorização de atendimentos emergenciais.

Ao Portal 6, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde), Néia Vieira, explica que a situação se intensificou no último mês, com a vigência de uma portaria, que entrou em vigor em 1º de agosto, e estabelece novos prazos para a emissão de guias por tipo de atendimento.

“De fato o Ipasgo publicou uma portaria em que coloca prazo para liberação de exames e pacientes e está diferente dos prazos de quando era uma autarquia. Antes era quase imediato, hoje o Ipasgo não tem uma empresa de auditoria contratada. Há uma demora muito grande de atendimento nas solicitações e os usuários têm reclamado”, diz.

Em nota enviada à reportagem, o Ipasgo alegou que passa por uma transição importante, alinhando os processos às normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar e que, desde 1º de agosto, estipula prazos máximos para auditar os pedidos.

Conforme a nova documentação, apenas consultas básicas tanto na área médica quanto odontológica, além de urgências e emergências são feitas de forma imediata – no caso da última, respeitando os prazos de carência.

Já sessões com fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, demais serviços de diagnóstico e terapia em regime ambulatorial, atendimento em regime de hospital-dia e tratamentos antineoplásicos orais, ambulatoriais e domiciliar, o tempo é de até 10 dias úteis (nos tratamentos, o fornecimento poderá ser realizado de maneira fracionada por ciclo).

O período para serviços de diagnóstico por laboratório de análises clínicas em regime ambulatorial; procedimentos de alta complexidade – PAC, atendimento em regime de internação eletiva e os realizados em consultório odontológico/clínica com cirurgião dentista são de até 3 dias, 21 dias e 7 dias, respectivamente.

“Os pacientes em tratamento oncológico têm sido os mais afetados, toda a agilidade afeta o tratamento. Quando tem uma rapidez na aprovação de medicamentos e atendimentos, isso pode influenciar na melhora do quadro de saúde ou na piora. […] A gente lamenta muito que o Ipasgo não esteja conseguindo entregar o serviço de qualidade”, diz. Ela reforça que alguns chegam a esperar até 30 dias para conseguir os serviços.

O Ipasgo, por sua vez, admite que o tempo não está dentro do ideal. Tanto que, coloca como meta, sem especificar prazo, reduzir as análises dos pedidos em no máximo 48h.

Para a presidente do sindicato, a mudança na natureza jurídica do órgão não surtiu efeitos positivos na prestação dos serviços aos usuários e, inclusive, teve um resultado diferente do almejado.

“Até agora nós não vimos nenhum efeito positivo nessa mudança [de autarquia para serviço autônomo]. Nós fizemos uma audiência pública com a deputada Bia de Lima (PT) e haverá uma audiência pública amanhã, na terça-feira (03), na Alego. A gente acredita que foi um equívoco deixar de ser uma autarquia porque não melhorou a gente precisa ver isso”, reforçou.

A mudança para um serviço autônomo não só foi alvo de críticas da representante da saúde, como também vem sendo tratada como um certo incômodo pelo próprio Ipasgo, que busca um meio termo junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar para tratar do caso.

“A instituição propôs à agência reguladora que a assistência seja mantida por meio do enquadramento como produto em extinção, quando ficam impedidas novas adesões, mas há garantia de atendimento às pessoas que já são beneficiárias. O órgão responsável por regular, normatizar e fiscalizar o mercado de planos de saúde ainda não respondeu ao pleito”, diz em nota.

Leia a nota completa na íntegra: 

A respeito dos questionamentos realizados pelo veículo, o Ipasgo Saúde esclarece que segue em tratativas junto à Agência Nacional de Saúde Suplementar com o objetivo de manter a assistência aos 9.877 beneficiários, de 14 entidades, afetados pelas regras regulatórias para reconhecimento da instituição como uma autogestão de plano de saúde, um processo em curso desde abril deste ano. Inclusive, o presidente do Ipasgo Saúde, Vinícius Luz, tem agenda este mês com a ANS para tratar do caso. A instituição propôs à agência reguladora que a assistência seja mantida por meio do enquadramento como produto em extinção, quando ficam impedidas novas adesões, mas há garantia de atendimento às pessoas que já são beneficiárias. O órgão responsável por regular, normatizar e fiscalizar o mercado de planos de saúde ainda não respondeu ao pleito. A ANS entende que essas 14 entidades não apresentam correlação de atividades com o poder público estadual e, portanto, não têm direito a prestação de serviço pelo Ipasgo Saúde. No entanto, os esforços do plano de saúde, o maior de Goiás e um dos maiores do país, são para reverter este cenário.

A entidade informa também que, no dia 1º de agosto, adotou um sistema de gestão 100% alinhado às normas da ANS. Apesar da instabilidade inicial, comum em implementações tecnológicas, a nova ferramenta é projetada para melhorar a gestão de recursos, a qualidade dos serviços, e a transparência entre o plano, os beneficiários e a rede de prestadores. Superadas essas intercorrências, os stakeholders do Ipasgo Saúde agora contam com um sistema mais eficiente e seguro, reduzindo tempos de espera para autorizações e otimizando operações internas.

Entre os meses de junho e agosto, o Ipasgo Saúde realizou 37 capacitações, tanto presenciais quanto online, para preparar a rede credenciada quanto à operação do novo sistema. Além disso, foram disponibilizados manuais e 28 vídeos tutoriais no Portal do Prestador, realizadas duas lives tira-dúvidas, operações in loco em grandes prestadores, criada uma central de teleatendimento específica para atendimento aos prestadores, algo inédito nos 62 anos de história da instituição, com atendimento por telefone e via chat no sistema FacPlan, e, ainda, estruturada uma rede de suporte vias mídias sociais.

Por fim, o Ipasgo Saúde esclarece que está em uma fase de transição importante, alinhando os processos às normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Um deles envolve exatamente a adequação do setor de auditoria e regulação às regras da ANS. Por isso, desde 1º de agosto a instituição tem prazos máximos para auditar os pedidos. Esses prazos, válidos para todos os planos de saúde do Brasil, foram estabelecidos para garantir que nenhuma solicitação de atendimento fique sem resposta dentro do tempo adequado. No entanto, o Ipasgo Saúde está trabalhando diuturnamente para garantir que a análise dos pedidos seja feita em um tempo bem menor do que o previsto pela ANS. A meta é que, em breve, todos os pedidos sejam analisados em 48 horas ou menos. Atendimentos de urgência e emergência, no entanto, têm autorização imediata.

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