Distúrbios do sono: especialista goiana explica como melhorar condição que afeta 70% das pessoas
Médica especialista na área detalhou os principais problemas envolvendo o tema e como agir para uma melhor qualidade de vida
Ao cair da noite, após um longo dia de trabalho, o que muitas pessoas anseiam é finalmente poderem se deitar, fechar os olhos e,enfim,descansarem.
Entretanto, para a grande maioria dos brasileiros, esse “descanso” não parece ser suficiente, de modo que, ao acordar, as poucas horas de sono aparentam não terem feito diferença alguma. O cenário é tão preocupante que, conforme dados da Fundação Oswaldo Cruz de 2023, 72% dos brasileiros sofrem com distúrbios do sono – ou seja, de 7 a cada 10 brasileiros.
Os números podem, na verdade, serem explicados por questões envolvendo hábitos e costumes da população, que impactam negativamente na hora de dormir.
Em entrevista ao Portal 6, a neurocirurgiã goiana Ana Maria Ribeiro de Moura, destacou que, basicamente, tudo o que interfere negativamente na capacidade de adormecer e permanecer dormindo pode ser classificado como distúrbio.
“O distúrbio de uma pessoa pode não ser o mesmo que de outra, mas ainda assim ambas têm o sono prejudicado, então têm o distúrbio. Há os casos mais comuns, claro, como roncos em excesso, que podem levar a uma apneia, epilepsia, insônia ou mesmo acordar muito durante a noite”, destacou.
Conforme a especialista, o sono é composto por quatro fases, que se repetem em ciclos. As três primeiras etapas podem ser, resumidamente, descritas como o sono mais leve, que progride a cada uma delas, até a quarta fase, onde entramos na fase de movimentos rápidos dos olhos (REM, no inglês).
“É nessa fase REM que o corpo realmente descansa, que repomos nossas energias. O que acontece, principalmente nos casos de apneias, que são os mais comuns, é que a pessoa tem dificuldade para respirar e acaba acordando várias vezes ao longo da noite, muitas vezes antes da fase REM. Então, acaba que ela adormece, mas acorda antes de descansar de verdade”, pontuou.
Ela destacou, ainda falando sobre o fluir do sono, que cada ciclo demora de 60 a 90 minutos, para então começar novamente. Entretanto, a quantidade de horas indicadas de descanso varia conforme a idade. Bebês são quem mais dormem, com a recomendação de 10 horas por dia. Após isso, o tempo vai diminuindo até chegar em 8, para jovens e adultos. Já na velhice, a necessidade cai para 7 ou 6.
Causas e prevenção
A médica explicou que, na maior parte das vezes, os distúrbios advêm de hábitos e comportamentos da própria rotina do paciente.
“Excesso de trabalho pode gerar esses problemas, o excesso de tecnologia, especialmente antes de dormir, que além de desregular nossos níveis de dopamina, ainda atrapalha a liberação de melatonina, daí a falta de sono. Refeições muito pesadas ou com muitos carboidratos também impactam muito negativamente”, exemplificou.
Outra causa para os distúrbios tem a ver com problema crônicos. Dentre estes, Ana destacou o hipertireoidismo, que acelera o organismo e dificulta na hora de dormir, bem como outras patologias, como obesidade, asma e também refluxo.
A especialista ainda se posicionou contra a ideia de soluções vendidas como fáceis e rápidas para problemas do sono, principalmente medicamentosas.
“Muita gente espera uma pílula milagrosa, que vá fazer dormir e melhorar todos os sintomas. Mas esses remédios, chamados de Benzodiazepínicos, podem até te fazer adormecer, mas também dificultam ou impossibilitam chegar na fase REM. Então você ainda acorda cansado, irritado, parecendo que não dormiu”, destacou.
A solução, segundo ela, tem muito mais a ver com compreender qual o hábito que está causando o problema e, através de mudanças de comportamento, buscar uma melhor qualidade de vida.
“Uma hora, duas horas antes de dormir, ficar longe do celular, de telas, tomar um banho e tentar relaxar. Na janta, evitar comidas pesadas ou bebidas energéticas, como refrigerantes com cafeínas. Ao longo do dia, especialmente se já tem mais de 30 anos, atividade física não é um luxo, é uma necessidade. Nem que seja 15 minutos de caminhada, mas o corpo precisa de algum exercício”, pontuou.
Por fim, ela comentou que, em um cenário ideal, todos deveriam procurar atendimento médico ao primeiro sinal de qualquer distúrbio, mas que, dado a realidade, assim que tais problemas passarem a de fato atrapalhar ao longo da noite, deve-se buscar acompanhamento.
“Existe um exame, chama polissonografia. A pessoa vem, passa a noite na clínica, conectada a aparelhos, que vão analisar o sono, ver como está a respiração, a frequência cardíaca e identificar o problema para, daí sim, sabermos onde precisa de intervenção e acompanhamento psicológico, psiquiátrico ou alguma outra intervenção”, finalizou.