Especialista explica febre dos “bebês reborn” e indicação de traumas emocionais: “uma maternidade idealizada”
Hobby excêntrico tem tomado conta das redes sociais, mas desperta alerta


Nas últimas semanas, as redes sociais têm sido tomadas por um único assunto: os bebês reborn, bonecas hiper-realistas, com corpos articulados e feições quase humanas.
No entanto, além de apenas ‘colecionar’ esses brinquedos, muitas pessoas Brasil afora têm demonstrado um hábito peculiar: cuidam dessas bonecas como se fossem filhos reais. As situações são as mais variadas: pessoas trocando fraldas, levando os bebês para passear, educando-os e até fazendo ‘partos’ reborns.
Diante dessa crescente popularidade, muitos acabam se perguntando até que ponto isso deixa de ser um hobby exótico e passa a se tornar algum fenômeno psíquico.
Segundo a psicanalista Fabiana Guntovitch, especialista em comportamento, alguns casos não passam de excentricidades, intimamente ligadas à vida da pessoa, que utiliza as bonecas como forma de ‘cura’.
“A relação com um bebê reborn é, muitas vezes, uma forma simbólica de cuidar de si mesma — de partes frágeis, feridas ou não elaboradas da própria história emocional”, afirmou a psicanalista.

Psicanalista Fabiana Guntovitch. (Foto: Divulgação)
Nesses casos, a prática pode estar relacionada a questões pessoais como luto perinatal, infertilidade, solidão afetiva ou até desafios com a própria maternidade.
É nos bebês reborn que, segundo a especialista, essas mães enxergam filhos quase perfeitos, uma figura sem riscos, frustrações e renúncias da maternidade real.
“O reborn representa uma maternidade idealizada: um filho que não chora, não exige limites, não adoece, não cresce. É uma figura de amor total, mas sem os riscos, frustrações e renúncias da maternidade real”, explica ela.
Alerta
Apesar de, em alguns casos, parecer algo comum, os cuidados excessivos com os bebês reborns podem se tornar um motivo de alerta, explicou Fabiana.
Segundo ela, sob a ótica da psicanálise, o uso dessas bonecas pode ativar mecanismos como projeção, identificação e tentativas inconscientes de reparar experiências de perda ou abandono.
“O que um bebê reborn nos mostra é que o desejo de amar e de ser amado encontra caminhos complexos e, por vezes, silenciosos. Cabe a nós reconhecer que, mesmo nos vínculos com o inanimado, há algo pulsando: um pedido de acolhimento”, destaca Fabiana.
Não o bastante, os brinquedos podem acabar se tornando um ‘espelho’ dos próprios desejos, medos ou traumas não simbolizados.
“O problema aparece quando o vínculo com o bebê reborn passa a substituir as relações humanas. Quando há um apego excessivo, pode ser sinal de sofrimento psíquico, isolamento afetivo e dificuldade de lidar com a realidade emocional”, concluiu.
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