“Se a polícia soltar, eu mesma mato”, diz mãe de bebê de três meses agredida pelo pai em Anápolis

Situação é gravíssima e profissionais de saúde já iniciaram protocolo de morte cerebral

Davi Galvão Davi Galvão -
Bebê está em estado gravíssimo no Hugol. (Foto: Nayara Rodrigues)
Bebê está em estado gravíssimo no Hugol. (Foto: Nayara Rodrigues)

“Eu vou matar ele. Se a polícia soltar, eu mesma mato ele e vou presa.” Essa foi a declaração de Nayara Rodrigues, mãe da bebê de apenas três meses que teve o protocolo de morte cerebral iniciado. O que começou como um caso de engasgo teve uma reviravolta chocante quando o pai da pequena foi preso pela Polícia Civil (PC), suspeito de ter agredido a filha.

Em entrevista ao Portal 6, Nayara revelou estar em choque com o que aconteceu, especialmente por ter estado com o ex-companheiro há 15 anos e não entender o que o levou a uma atitude tão impensável.

Ela contou que, no dia do suposto engasgo, na manhã deste domingo (10), estava trabalhando como diarista em um estabelecimento, na Vila Jaiara, quando o pai bateu desesperado no portão, com a criança já roxa nos braços.

Inicialmente, a Polícia Militar (PM) compareceu ao local, com os policiais tentando realizar uma manobra de reanimação.

A neném foi encaminhada até a UPA Pediátrica, mas, diante da gravidade do caso, foi transferida para a Santa Casa de Misericórdia e, posteriormente, para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia.

Nayara contou que chegou a questionar o companheiro se algo a mais havia ocorrido, mas ele sustentou a versão do engasgo durante a amamentação, alegando que as lesões foram ocasionadas pelos primeiros socorros.

Porém, durante a tarde desta segunda-feira (11), após apurar o caso junto à equipe médica, a PC prendeu o pai da pequena, em uma reviravolta que pegou até mesmo a mãe de surpresa.

“Eles [PC] vieram me falar que as lesões não tinham relação com engasgo, que a minha bebê estava com a cabecinha toda quebrada, com o cérebro inchado, perdendo muito sangue”, disse, em meio ao choro.

Neném teve protocolo de morte encefálica iniciado. (Foto: Nayara Rodrigues)

Neném teve protocolo de morte encefálica iniciado. (Foto: Nayara Rodrigues)

Ao lado do leito da filha, tão forte quanto o pesar, é a raiva que Nayara disse estar sentindo. Especialmente levando em conta os 15 anos de história que tinha com o ex-companheiro.

“É uma raiva que eu não quero nem ver ele agora, porque, se eu vir, eu mato. Mato e vou pra cadeia feliz. Não sei o que deu nele, algo desse tipo, não tem justificativa”, afirmou.

Estado delicado

Com o protocolo de morte encefálica iniciado pela equipe médica, Nayara está ciente da grande possibilidade de ter de se despedir da filha, mas ainda nutre esperanças.

“Ela está aqui, na minha frente, o meu bebê. Tá respirando com ajuda das máquinas, o coraçãozinho tá batendo sozinho, dói pensar no que pode acontecer. Mas eu ainda tenho esperanças”, afirmou.

Dinâmica familiar

Nayara revelou que, sem tempo para cuidar das crianças, o acordo firmado entre o casal era que ela trabalharia para sustentar o lar, enquanto o marido ficaria em casa, tomando conta dos filhos.

Além da neném, o casal ainda tem três filhos, de 12, 10 e 04 anos, atualmente sob os cuidados da avó materna.

A mãe relatou que o companheiro, de fato, tinha um perfil mais agressivo no começo do relacionamento, mas que nunca havia batido nas crianças, a não ser de forma corretiva.

“A única vez que me lembro foi quando estava grávida [da neném] e ele deu um tapa, com força, no meu mais velho. Nisso, eu estava com um cabo de carregador na mão e dei na cara dele, para ele nunca mais fazer isso”, relembrou.

Ela ainda relatou que acreditava que a filha sofria de cólicas, pois ficava agitada e chorosa com frequência. Porém, no hospital, lhe foi revelado que a pequena estava com três costelas fraturadas já há um mês.

“Eu achava que era cólica, porque ela ficava bem agitadinha e eu encostava ela na minha barriguinha assim, a gente dormia encostada de uma na outra”, lamentou.

Investigações continuam

Nayara deve ser ouvida novamente pela PC na tarde desta quarta-feira (13) para que as autoridades possam compreender como se deu a dinâmica do fato em questão.

Além disso, os filhos mais velhos do casal, bem como a avó materna, também devem passar por oitivas ao longo da semana.

Ao Portal 6, a delegada Aline Lopes Cardoso, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), afirmou que, com relação à agressão que culminou na morte da neném, não há qualquer indício que aponte participação da mãe.

Apesar disso, as autoridades apontaram indícios de que Nayara pudesse ser conivente com outras situações, envolvendo abandono e maus-tratos.

Relatos de vizinhos do casal apontam que, constantemente, os dois deixavam as crianças sozinhas para utilizar entorpecentes.

“A casa foi encontrada em um completo estado de insalubridade, em um lugar totalmente inviável para qualquer pessoa viver, ainda mais quatro crianças”, apontou a delegada.

Em contato com o Hugol, a unidade informou que a bebê está internada na UTI Pediátrica, em estado gravíssimo e respirando com ajuda de aparelhos, com o protocolo de morte cerebral tendo sido iniciado.

O caso segue sendo investigado.

 

 

*Colaborou Samuel Leão

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Davi Galvão

Davi Galvão

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás. Atua como repórter no Portal 6, com base em Anápolis, mas atento aos principais acontecimentos do cotidiano em todo o estado de Goiás. Produz reportagens que informam, orientam e traduzem os fatos que impactam diretamente a vida da população.

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