Bebê morta pelo pai em Anápolis: conselheira tutelar revela bastidores de tragédia que poderia ter sido evitada
Graziele Araújo Ramos contou com exclusividade ao Portal 6 como a criança foi retirada da família e depois levada de volta pelos pais sem comunicação às autoridades

A conselheira tutelar Graziele Araújo Ramos conversou com o Portal 6 e detalhou os bastidores de uma tragédia que abalou Anápolis: a morte da bebê Elza Mariana, de apenas 02 meses, morta pelo próprio pai na quinta-feira (14).
Em entrevista exclusiva, a profissional responsável pelo caso detalhou como a criança havia sido retirada da família em junho e colocada sob proteção da avó materna, mas acabou voltando para as mãos dos agressores.
“Aperta o coração”, desabafou Graziele ao relembrar o momento em que descobriu que os pais haviam retirado a bebê da casa da avó sem comunicar o Conselho Tutelar. Pelo o que já foi levantado, é possível adiantar que tragédia expõe as fragilidades do sistema de proteção infantil e levanta questionamentos sobre como evitar que casos similares se repitam.
O pai da bebê já foi preso, e a Polícia Civil investiga a possível conivência da mãe, Nayara, em episódios anteriores de maus-tratos, embora não haja indícios de sua participação na agressão fatal.
Casa imunda, bagunçada e imprópria
Graziele Araújo Ramos assumiu o caso após receber denúncias de agressões e maus-tratos contra as crianças e a mãe. Em 6 de junho, ela tomou a difícil decisão de retirar Elza Mariana, então com cerca de um mês, e seus três irmãos da residência familiar.
“A casa estava imunda, bagunçada e imprópria ao convívio”, descreveu a conselheira. Os pais eram usuários de entorpecentes, e a mãe sequer havia feito o pré-natal da bebê – fato que serviu de estopim para o acionamento do Conselho Tutelar.
Emocionada com a situação da família, Graziele organizou por conta própria campanhas para arrecadar roupas e itens de cuidados pessoais.
“Ela sempre muito carinhosa com as crianças, e elas com a mãe, uma cena muito difícil, separar uma família, mas infelizmente a gente explicou para ela que era o melhor, que não havia condições das crianças ficarem com eles. Ela entendeu, aceitou”, relembrou.
A conselheira chegou a registrar em vídeo o momento da entrega das crianças à avó materna, seguindo o procedimento padrão do Conselho Tutelar de procurar um membro da família extensa para cuidar de crianças em situação de vulnerabilidade.
A tragédia que poderia ter sido evitada
O que deveria ter sido uma medida de proteção definitiva se transformou em tragédia poucas semanas depois. Os pais retiraram a bebê da casa da avó sem comunicar o Conselho Tutelar, burlando o sistema de proteção.
Quando questionada posteriormente sobre o motivo, a mãe disse estar com medo de que lhe tirassem a filha novamente.
“Aperta o coração, nessa hora eu falei que a gente já tinha conversado, tínhamos concordado que era o melhor ela ficar com a avó, mas ela estava muito abalada, muito complicado”, relembrou Graziele.
No último domingo (10), as autoridades foram acionadas para socorrer a bebê em um suposto caso de engasgo. No entanto, a investigação da Polícia Civil revelou que as lesões apresentadas eram incompatíveis com a versão apresentada pelos pais.
“O papai bate só na mamãe”
A conselheira revelou ainda detalhes chocantes sobre a primeira visita à casa da família. Logo ao chegar, uma das filhas do casal disse: “o papai bate só na mamãe”, expondo um ambiente de terror doméstico.
“Na minha visão, a Nayara também é uma vítima. Ela sofria agressões do marido, mas recusava-se a se enxergar como vítima. Eu me compadeço com a dor dela, quando ela soube o que o companheiro tinha feito, ela ficou fora de si, com muita raiva, desacreditada”, comentou Graziele.
A conselheira também se solidarizou com a mãe, que passou a receber diversos ataques de internautas que acompanham o caso. “É uma neném que foi tirada da mãe, ela já está passando por uma dor terrível. Agora é o momento sim de investigar o que aconteceu, mas também de acolher”, destacou.
Não há indícios de participação da mãe, diz delegada
A delegada Aline Lopes Cardoso, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), confirmou ao Portal 6 que não há indícios de participação da mãe na agressão que culminou na morte da bebê.
Entretanto, a DPCA investiga se Nayara pode ter sido conivente com outras situações envolvendo abandono e maus-tratos anteriores.
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