Pandemia acelerou processo de favelização na Grande Goiânia

Falta de iniciativas públicas e aumento nas taxas de desemprego são fatores que favorecem o aparecimento de ocupações irregulares

Augusto Araújo Augusto Araújo -
Pandemia acelerou processo de favelização na Grande Goiânia
Ocupação irregular no setor Estrela Dalva, em Goiânia. (Foto: Reprodução).

Em decorrência dos efeitos da pandemia de Covid-19, o número de pessoas vivendo em favelas na Grande Goiânia aumentou em 25% nos últimos dois anos.

O quadro econômico geral no país, com a diminuição do poder de compra e aumento nas taxas de desemprego favoreceram o aparecimento de ocupações irregulares.

Quem explica isso é a arquiteta e urbanista Simone Buiati. Integrante do Conselho de Arquitetura de Urbanismo de Goiás (CAU-GO), ela afirmou ao Portal 6 que o coronavírus agravou um problema que já era notório na capital.

“Historicamente, Goiânia sempre foi uma cidade desigual e não há uma preocupação do poder público com essa questão habitacional. O orçamento para políticas nesse sentido já chegou a zero há alguns anos atrás”, afirmou.

Embora não exista um levantamento oficial, Simone apontou que existem cerca de 17 favelas na Região Metropolitana, somadas com as ocupações de Aparecida (seis) e Nerópolis (uma).

“Goiânia tem um histórico de ocupações irregulares, como a do Parque Oeste [Industrial], no Estrela Dalva, que são cicatrizes na nossa história. No entanto, não há dúvidas que a pandemia aumentou esses números, nestes dois anos”, apontou.

A representante do CAU-GO também afirmou que o órgão vem atuando em discussões junto aos conselhos de políticas públicas do município para a inserção de políticas de regularização fundiária.

“Além disso, a gente promove a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), que é um ‘SUS da Arquitetura e Urbanismo’. Por meio dela, a gente busca garantir a qualidade de vida da população”, complementou.

Estigma

Apesar do termo “favela” estar associado com a cultura de construções nos morros do Rio de Janeiro, a nomenclatura é uma das formas populares de chamar as ocupações irregulares ou “aglomerações subnormais”, como usa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

O presidente da Central Única das Favelas em Goiás (CUFA-GO), Breno Cardoso deu ao Portal 6 uma definição mais ampla a respeito da nomenclatura

“Para nós, favelas são territórios onde predominam pessoas que vivem em dificuldade social, sejam eles áreas de ocupações ou até mesmo bairros de periferia”.

“Sendo assim, a gente considera que existem 507 territórios de periferia em Goiás, sendo 157 em Goiânia, 57 em Aparecida e os demais distribuídos em outras 33 cidades”, detalhou.

De modo geral, Breno apontou que essas localidades sofrem com a falta de políticas públicas voltadas para elas, além da ausência de informações e espaços para atendimentos de serviços básicos para a população.

“Muitas vezes até existe a oferta desses serviços, como hospitais, escolas, cultura. Porém, elas são feitas de forma centralizada nos municípios e acaba deixando de lado as populações marginalizadas”.

“Os políticos esquecem a dificuldade que existe nesses territórios, tanto de informação quanto locomoção”, complementou.

Nesse sentido, o presidente da CUFA-GO afirmou que a iniciativa busca realizar trabalhos para gerar oportunidades e empoderar essas classes sociais mais vulneráveis.

Dois exemplos citados por ele foram a Taça das Favelas, torneio de futebol voltado para o público jovem, e o Top CUFA, desfile de moda voltado para empreendedores de estética e beleza.

“Fazemos ações no sentido de chamar atenção para essas populações que são invisibilizados e mostrar que existe um povo na base dessa pirâmide social, que tem sua expressão, sua voz e sua cultura”.

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