Saiba como agia médico residente preso por assédio contra alunas de Medicina, em Anápolis

DEAM recebeu informações de que 53 vítimas podem ter sido alvos dos abusos

Davi Galvão Davi Galvão -
Médico residente é preso em Anápolis. (Foto: Divulgação/PC)

Uma interação que deveria ser completamente profissional e, principalmente, educativa, tornou-se um pesadelo para diversas estudantes do curso de Medicina, em Anápolis.

As jovens denunciaram serem vítimas de recorrentes assédios e abusos de autoridade por parte de um residente em ginecologia, identificado como João Paulo Ferreira Castro, enquanto exerciam atividades ligadas ao internato – etapa final do curso – na Santa Casa de Anápolis.

O suspeito foi preso preventivamente nesta quinta-feira (20), após quatro vítimas procurarem a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), com o intuito de formalizar as acusações.

Conforme relatado ao Portal 6, um grupo criado no WhatsApp com o intuito de juntar relatos e vítimas do profissional já acumula 53 participantes. Apesar de cada história envolver alguma particularidade, alguns pontos em comum são observados.

Brincadeiras de duplo sentido, insinuações diretas de atos sexuais, desrespeito ao espaço pessoal e até toques físicos, como colocar a mão na cintura, apertar o braço e comentários não profissionais em postagens nas redes sociais foram alguns dos comportamentos mais apontados.

Uma dessas jovens, que optou por preservar o anonimato, revelou que, um evento específico foi a gota d’água para as interações.

Conforme ela relatou, enquanto acompanhava João Paulo em um procedimento, pediu autorização a ele para poder realizar uma sutura, ao que ele teria a questionado com o que ganharia em troca, caso permitisse.

“Na hora eu falei que de mim não ia ganhar nada, porque sou casada, e que era a Santa Casa a responsável por remunerá-lo”, relembrou.

Logo em seguida, João teria feito outro comentário, insinuando que caso os dois se casassem, ele não conseguiria realizar o parto dos filhos que pudessem ter, já que estaria muito envolvido.

A vítima contou que, no momento, não teve escolha se não permanecer calada e continuar a operação, esperando “um bom senso que não apareceu”.

Outra jovem, que também preferiu não ter a identidade revelada, confirmou que toques inapropriados e interações fora do ambiente de trabalho sempre foram recorrentes. Ela ressalta que, inclusive, o médico a elogiava muito no local de trabalho, dizendo a todos que ela era um prodígio.

Porém, tudo isso mudou após, inúmeras importunações, ela exigir que fosse mantido um relacionamento profissional entre os dois. Depois desse “basta”, o tratamento mudou por completo. Segundo ela, João passou a difamá-la na frente de toda a equipe, chegando até mesmo a chamá-la de burra e incompetente, barrando-a de realizar procedimentos.

Este, inclusive, é um dos maiores receios por parte das vítimas, uma vez que, enquanto residente, o médico tem a autoridade para supervisionar todas as ações dos internos que ficam sob responsabilidade dele, podendo inclusive impedi-las de efetuar cirurgias e outras atividades, prejudicando a aprendizagem.

Diante desse cenário, elas comentaram que várias colegas sentiam receio em se posicionar ou levantar denúncias contra o suspeito.

Agora, preso preventivamente, o caso seguirá sendo investigado pela Polícia Civil (PC), que autorizou a divulgação da imagem do suspeito, justamente para que eventuais vítimas busquem as autoridades.

O que diz a Santa Casa

Em nota enviada ao Portal 6, a Santa Casa de Anápolis esclareceu que o médico João Paulo Ferreira Castro atua como residente na unidade em razão de Convênio Universitário, não possuindo qualquer vínculo empregatício com o hospital.

Ainda informou que não recebeu qualquer denúncia contra o profissional, mas que estão à disposição das autoridades para maiores esclarecimentos.

Leia a nota na íntegra:

Esclarecemos que o médico Dr. João Paulo Ferreira Castro, atua junto à Santa Casa de Misericórdia de Anápolis, como médico residente, em razão de Convênio Universitário, portanto, não possui vínculo empregatício com essa Unidade de Saúde.

Afirmamos, que até o presente momento, não recebemos qualquer relato de denúncia contra o médico por parte de paciente ou colaboradores dessa Instituição, contudo, colocamo-nos à disposição das autoridades para contribuir que for necessário.

À imprensa, o advogado do médico, Edvaldo Adriany Silva, nega que o cliente cometeu os crimes.

Leia a nota do advogado na íntegra: 

“É uma linha muito tênue essa alegação. É algo que precisa ser melhor avaliado, pois não teve nada extravagante. Além disso, não teve assédio ou importunação contra pacientes e sim, com colegas que acharam a conversa dele extravasando o bom-senso. Porém, no nosso entender, isso não aconteceu e vamos demonstrar isso ao longo do processo”.

 

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