Usuários goianos de maconha refletem sobre nova realidade após descriminalização do porte de 40 gramas

Segundo um deles, a 'guerra às drogas' seria apenas uma desculpa para oprimir a população carente

Samuel Leão Samuel Leão -
Usuários goianos de maconha refletem sobre nova realidade após descriminalização do porte de 40 gramas
Imagem feita na plantação de cannabis da Abrace Esperança, única associação no país com autorização judicial para o cultivo e extração do óleo a base de CBD (canabidiol), em João Pessoa (PB). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)

A votação da descriminalização do porte de maconha, que chegou ao placar de seis votos favoráveis e três contrários do Supremo Tribunal Federal (STF), repercutiu em todo o Brasil, com muitos comemorando e outros lamentando a decisão. Em Goiás, o cenário não foi diferente.

O Portal 6 buscou deslocar o eixo da discussão – que circula em várias esferas da sociedade – para os usuários.

Maicon Barbosa, 33 anos, vive no Bairro Floresta, em Goiânia, e atua como Gari e rapper. Ele contou que fuma maconha há 14 anos e explicou que não recomenda o consumo “prematuro” e tratou da realidade vivenciada na capital.

“Já fumo há 14 anos, desde os 19, mas recomendo o uso apenas após a idade adulta por vários fatores, em especial de saúde e formação do cérebro. Passei por várias abordagens policiais, muitas com violência, e pelos fatores determinantes, que são onde moro, minha classe e cor da pele”, explicitou.

Pai de família, ele reforçou que percebe uma “demonização” da maconha, feita pela política de guerra às drogas, a qual impossibilita a reflexão e pesquisa sobre os vários usos possíveis da planta.

“Não trata sobre outras questões, sobre o uso medicinal, em cosméticos, construção e outros, para entenderem que a maconha não é só para ser fumada. Fica reduzindo a ideia de maconha ao pobre, marginal e viciado, sendo que a realidade é outra”, refletiu.

Ao ser indagado sobre a expectativa que tem da descriminalização, ele relatou que não acredita em mudanças. Segundo ele, a ‘guerra às drogas’ seria apenas uma desculpa para oprimir a população carente, visto que, hoje em dia, classes abastadas têm a liberdade de comprar e consumir sem medo.

“Temos uma das policiais que mais mata no mundo e que fala, com orgulho, que tem que matar ao invés de prender. Não importa para eles se você é trabalhador, empresário ou produtor cultural, se estiver no lugar errado e for do perfil errado…”, finalizou.

Outro recorte

Em outra ponta do gradiente, Marcos Antônio, de 26 anos, revelou que consome a cannabis há 10 anos, no entanto, vive uma realidade muito diferente da experimentada por Maicon. Após viver, desde pequeno, no Jundiaí, em Anápolis, ele agora mora no Setor Sul, em Goiânia.

“Nunca sofri uma abordagem policial, em Anápolis, morando no Jundiaí por mais de 8 anos. Sempre consumi livremente nas ruas e nunca fui abordado, diferente dos meus amigos negros, seja em outros ou até no mesmo bairro”, relatou.

Segundo ele, a questão teria um peso na hora da polícia realizar as abordagens. De pele clara e profissional em designer gráfico, ele revela uma realidade muito próxima da legalização, vivenciada por ele desde sempre, mas que não alcança todos os perfis.

“Espero que, com a descriminalização, aumente a liberdade para o consumo, diminuindo o medo ou a pressão pessoal, já que não vamos ser mais tratados como criminosos e sim como consumidores, tal qual fumantes de tabaco, usuários de tarja preta ou de bebidas alcoólicas”, complementou.

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