Família em Anápolis luta para conseguir tratamento para idoso com câncer agressivo: “estão esperando meu pai morrer”
Em um labirinto burocrático, Prefeitura de Anápolis e Goiânia se contradizem ao atribuírem responsabilidade sobre o caso

Aos 73 anos, José Ismael de Medeiros tinha uma saúde de ferro. Residente em uma chácara de Anápolis, costumava por si só ordenhar as vacas e cuidar dos tradicionais afazeres da roça. Porém, este ano o clima natalino vem acompanhado de uma sombra atroz. Precisando urgentemente de um tratamento contra o câncer, a família luta há quase um mês para conseguir uma vaga. O tempo, porém, é inimigo.
Diagnosticado com Síndrome Mielodisplásica (SMD), o relatório médico aponta a falência progressiva da medula óssea e com alto risco de progressão para leucemia mieloide aguda (LMA). Para a família, o baque maior foi a constatação profissional final: “o paciente irá a óbito em curto prazo caso não receba assistência médica especializada”.
Ante a um diagnóstico tão brutal, Neviton Damasceno de Medeiros, filho de Ismael, vem lutando com todas as forças para salvar a vida do pai, mas encontrou um empasse burocrático que impossibilita o tratamento adequado.
Isso porque, conforme relatado ao Portal 6, o diagnóstico por si só já foi um desafio a parte.
“Até agosto ele estava com uma saúde de ferro. Cuidando da chácara, ordenhando as vacas, mas de lá para cá começou muita fraqueza, dores e aí a gente correu atrás de médicos e nenhum descobria. Foi só com o Dr. Thiago Vilarinho que veio o diagnóstico do câncer, agora em novembro, e ele recomendou que procurássemos a regulação”, contou.
E assim foi feito. Conforme consta em documentação, a família inseriu o paciente no dia 27 de novembro na Regulação Municipal, tal qual exige o protocolo. Porém, menos de uma semana depois, ao consultarem a situação, foram informados de que José havia sido retirado da fila.
“Aí a gente já estranhou, perguntamos o porquê disso já que cada segundo conta, mas sem nenhum resposta certa. Colocamos ele de novo. Passou a semana, mesma coisa, tiraram ele mais uma vez. Ao total, foram quatro entradas e saídas”, detalhou.
A expectativa e o que foi repassado à família é de que o idoso seja transferido ao Hospital de Câncer Araújo Jorge, em Goiânia. Porém, com um diagnóstico tão apertado, a família relata estranhamento, revolta e principalmente dor com tamanho descaso.
“Não têm pressa de resolver. Parece que se a gente não estiver em cima deles, vai ficando para depois, parece que estão esperando meu pai morrer”, lamentou Neviton, em desespero.
Empurra-empurra
O caso de Ismael parece não ter uma solução fácil, isso porque, questionados pelo Portal 6, a Prefeitura de Anápolis, a Prefeitura de Goiânia e a própria Secretaria de Estado de Saúde (SES) se contradizem a respeito de qual ente regulador o paciente deveria estar inserido.
A Prefeitura de Anápolis informou que o município não dispõe de prestador com a subespecialidade específica para o idoso e, portanto, aguarda análise e autorização no sistema GERCON para SES e no SISLI para Goiânia.
Procurada, a Prefeitura de Goiânia afirmou que Anápolis “não tem pactuação com Goiânia para a oferta de oncologia hematológica” e que “o serviço precisa ser oferecido pelo município de Anápolis”.
A SES, por outro lado, informou que a regulação do paciente será feita diretamente pela Central de Regulação de Anápolis com a Central de Regulação de Goiânia.
Confira a nota da Prefeitura de Anápolis na íntegra:
“A SEMUSA informa que o paciente José Ismael de Medeiros, 73 anos, encontra-se devidamente inserido em dois sistemas de regulação, com solicitações ativas.
Esclarecemos que, o paciente foi lançado em sistema próprio para busca de vaga na rede municipal conveniada ( HEG e SCMA), no entanto não existe prestador com essa sub especialidade.
No momento, o pedido encontra-se aguardando análise e autorização no sistema GERCON para SES e no SISLI para Goiânia.
Ressaltamos que a Prefeitura de Anápolis acompanha o caso dentro de suas atribuições e mantém o paciente regulado.”
Confira a nota da Prefeitura de Goiânia, na íntegra:
Anápolis não tem pactuação com Goiânia para a oferta de oncologia hematológica. O serviço precisa ser oferecido pelo município de Anápolis, que oferta o tratamento que o paciente precisa.
Confira a nota da Secretaria do Estado de Saúde, na íntegra:
Informamos que a regulação do paciente José Ismael de Medeiros será feita diretamente pela Central de Regulação de Anápolis com a Central de Regulação de Goiânia.
Isso porque a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás não detém acesso ao Hospital Araújo Jorge.”
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