Amar é o caminho
O amor tem caráter. É sim, sim; não, não. Portanto, falsidade, manipulação, deslealdade, traição, mentiras, inveja, dissimulação, hipocrisia, indiferença é o conjunto de deformidades, que é o inverso de amor. E, de fato não rima.
O amor não faz daquele que o carrega no peito e na consciência um capacho; pelo contrário, o amor procura seu gêmeo para que seja possível uma resposta em valores e virtudes. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, pois sabe exercer paciência no amor em amor. Naquilo que é recíproco e que tem correspondência, é sempre coerente.
Pode chover milagres, dons e maravilhas, mas se não houver amor, de nada vale. Não há ligação, não há possibilidade alguma do amor estar ali fazendo morada, de se encontrar e multiplicar-se. O amor coaduna com aquilo que lhe é próprio.
Alguns acreditam que é necessário entregar-se a qualquer preço a todo tipo de abusos e humilhações para ser digno do amor – e se uma pessoa sofre de baixa auto-estima, acredita ser obrigada a se dobrar diante de muitos ataques, afrontas e vitupérios em “nome do amor”. Na verdade, isso nunca foi amor; pois o amor sabe o valor que tem. E por saber, não se limita à mesquinhez de ninguém.
O verdadeiro amor se encontra em si mesmo, compreende sua relevância, e desemboca no rio que está sedento e o espera.
O verdadeiro amor busca onde refletir, para caminhar de mãos dadas a despeito de todo e qualquer sofrimento, rema contra a falta de fé, trilha o caminho da perseverança sempre unido com o que lhe é inerente e de sua própria natureza. O amor jamais andará de mãos dadas com a indiferença, pois não falam a mesma língua, não se entendem e não se traduzem.
Sendo assim, ele busca multiplicar-se, acrescentar, crescer, envolver; mas tudo aquilo que lhe é contrário tem como objetivo minguar qualquer semente e centelha de amor. O amor traz em si todo aspecto e atitudes de bondade (o que difere de bondadismo), mas não se obriga à maldade, apesar de tudo sofrer sem se ressentir do mal.
O amor traz intrínseco em si luz e verdade; quando ele chega toda obscuridade fica exposta. A questão é que quando o amor chega, traz à tona e revela tudo o que está em oculto, nada passa despercebido em sua presença. Tudo se manifesta e vem à luz. Isso explica o porquê do ódio e indiferença se sentirem tão incomodados com sua presença. Então, toda energia que dispuserem para soterrar o amor, pode acreditar, dela se utilizarão.
O fato é que muitos preferem refutá-lo para fugir dali e não ser desmascarado tendo suas entranhas descobertas.
O ser que carrega o amor em si, distribui dessa virtude onde estiver. Nem todos receberão com alegria e prazer, alguns rejeitarão de primeira, outros procurarão suportar-lhe apenas para ir espremendo pelo prazer da tortura, tantos outros ficarão na dúvida se recebe o benefício ou não, mas poucos abrirão o peito para tal ternura.
Nos dias de hoje são raros os que desejam crescer em amor. No máximo tentam explorar uma faceta em si mesmo distribuindo sorrisos falsos e atitudes cheias de interesse próprio. Amar é uma subida íngreme, é sacrificial. É uma virtude que atrai olhares de muita perversidade e reações de terríveis hostilidades.
O caminho do amor é indo. Apenas isso, indo. Enquanto caminha, são dedos apontados, palavras de desprezo, risadas debochadas, rejeição exacerbada, inveja inescrupulosa, indiferença monumental. Mas continua indo, desabrochando, exalando sua essência, seu perfume, sua luz, suas virtudes… Deixa tudo que lhe é contrário para trás… Indo.
Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral. Escreve todas as segundas-feiras