A dúvida da criança que me impactou: “Não posso estudar?”
Terminamos a primeira semana do reinício às aulas presenciais na rede pública de ensino. Fiz questão de visitar parte das escolas e também fiscalizar se estavam obedecendo as orientações de biossegurança estabelecidas por nossas autoridades sanitárias.
Em uma dessas escolas a coordenação me acompanhou em todas as salas de aula me apresentando como vereador do município. Com o sorriso estampado no rosto e olhares brilhando, os alunos interagiam e em coro diziam da alegria de estar de volta às aulas.
Um desses alunos me chamou atenção, ao perguntar: “Não posso estudar? Ele veio fechar a escola?”. Confesso que fui impactado ao ser visto por um aluno tão inocente, como um tirano que impõe a força do Estado, privando a liberdade sem ter qualquer certeza das ações frente ao caos pandêmico. Foi horrível e me fez refletir muito sobre como temos cuidado de nossos estudantes.
Disputa de poder, conflitos de ego, guerra de narrativas, greves politizadas, mundo binário esquerda/direita, mídia militante e parcial a serviço de interesses escusos… Isso tudo tem reflexo direto na vida de nossas crianças.
O estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, estima que, no ensino remoto, os estudantes aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, em comparação com o que ocorreria nas aulas presenciais.
Afastando quaisquer tipos de narrativas e/ou viés ideológico desse mundo atual e cruel, finalizo citando Rubem Alves: “São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não tem saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida”.
José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo PSB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.
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