Indústria acumula quedas e isto nos impacta diretamente
A produção industrial goiana deve acumular uma queda significativa no ano que passou, quando forem consolidados os indicadores de dezembro. Até novembro o acumulado já era de -4,5%, isto já partindo de um patamar baixo por causa de percalços em anos anteriores. É um problema que está longe de ser pontual e tem um perfil mais estrutural.
Se tivemos na década de 1990 e início do anos 2000 a consolidação da indústria em Goiás, com papel preponderante dos programas de incentivo à industrialização criados nas gestões do MDB, agora somos impactados pela retração do setor em nível nacional, um fenômeno que pode ser observado nos últimos dez anos e que agora, somado à pandemia, afeta até os estados que viveram uma industrialização tardia, como Goiás.
De 2010 a 2020, a fatia do setor na composição do Produto Interno Bruto (PIB) nacional caiu de 27,4% para 20,5%. Em Goiás a indústria representava em 2018, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 20,8% do PIB local. Quatro anos antes, era 23,8%. A indústria goiana empregava cerca de 320 mil pessoas antes da pandemia, correspondendo a 20,9% do emprego formal do estado.
A perda desse espaço é um problema grave não só para uma cidade com perfil eminentemente industrial, como Anápolis, mas para o Estado como um todo. É que além dos ganhos diretos, a indústria forma uma cadeia econômica mais longa que os demais segmentos e beneficia diretamente outros setores, tendo um papel preponderante no dinamismo econômico de um estado ou um país. A atividade industrial agrega valor à produção agrícola e contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de serviços de alto valor agregado, como pesquisa, design, logística, marketing, entre outros. Existe uma conta de que cada R$ 1 gerado pelo segmento leva ao acréscimo de R$ 2,14 no PIB, acima do setor de serviços e do agronegócio, todos abaixo da faixa dos 2 reais.
Como a desindustrialização brasileira se trata de um problema estrutural, que tem diversas causas que vão desde a constante instabilidade econômica brasileira até a legislação tributária, passando pela falta de incentivos à inovação, as possíveis soluções também são complexas. Mesmo num cenário adverso como este, Goiás e Anápolis contam com diferenciais competitivos, como a infraestrutura logística, que está prestes a consolidar um novo patamar de oportunidades com a operação da Norte-Sul e os investimentos previstos nas concessões rodoviárias, além da própria pujança do nosso agronegócio.
Estender tapete vermelho para potenciais novos investidores, com uma infraestrutura adequada e previsibilidade legal, são os primeiros passos pra gente começar a reverter a trajetória negativa da nossa indústria, tão logo a economia do País permita. Mas competir com outros estados por esses investimentos vai demandar uma visão bastante arrojada por parte de todos os atores envolvidos nesse processo, criando mecanismos que estimulem investimentos na modernização do nosso parque industrial, em inovação e na qualificação e retenção dos nossos talentos. Sem querer parecer otimista demais, acredito que o cenário local é propício.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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