O papel das entidades religiosas na garantia da cidadania
Desde que entrei para a vida pública, tenho vivenciado de forma mais próxima o trabalho de entidades filantrópicas em todo Estado para atender a população mais vulnerável e os resultados muitas vezes são de encher os olhos, fruto de um aperfeiçoamento das ferramentas de gestão e da utilização dos canais de comunicação para ampliar o contato com as pessoas e, consequentemente, a abrangência de atuação. Isto tem sido especialmente notável no caso das entidades religiosas.
O papel das igrejas, independentemente da denominação, tem sido fundamental para dar dignidade às pessoas num momento em que atravessamos uma pandemia e uma crise econômica grave. Se o Brasil conseguiu subir 14 posições no ranking mundial de filantropia, divulgado em 2021, alcançando o 54º lugar, devemos muito disto à atuação das entidades religiosas e organizações não governamentais e sua capacidade de agregar pessoas e propósitos para atender quem mais necessita. Servem como motivadoras e também operadoras de diversas rede de solidariedade.
Além do auxílio com alimentos, vestimentas, medicamentos e outros itens essenciais para o cidadão mais desamparado, essas instituições têm feito um grande trabalho de apoio à formação de crianças e jovens, auxiliando também os adultos na qualificação e encaminhamento para um emprego. A recuperação de dependentes químicos é outro trabalho que chama atenção pela qualidade e pela capacidade que as instituições religiosas têm de assumir, com eficiência, uma demanda que o poder público encontra dificuldade para lidar. Nesse aspecto, o amparo espiritual ganha uma relevância muito grande para o sucesso do tratamento.
Vejo também muitos projetos voltados à prática do esporte e às artes, que complementam a formação que os jovens recebem na escola e evitam que os mais vulneráveis caiam na criminalidade. Como já coloquei anteriormente nesse espaço, estamos vivendo em todo País um período delicado, que combina inflação alta com estagnação econômica. É um cenário especialmente perverso para os mais pobres.
Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontam que entre 2018 e 2021 os alimentos ficaram, em média, 43% mais caros para o consumidor final. Mas a renda média das famílias não acompanhou nem de longe este aumento e o resultado é que hoje mais de 100 milhões de brasileiros vivem numa situação de insegurança alimentar.
Este cenário empurra milhares de famílias para a pobreza numa velocidade que o Estado não consegue absorver com seus programas de transferência de renda e reinserção no mercado de trabalho. Portanto, não tenho dúvida que essa rede de apoio das entidades religiosas tem sido uma grande aliada dos governos na missão de garantir dignidade para os cidadãos.
Acredito que o poder público deve estreitar os laços e estabelecer novos mecanismos de cooperação para potencializar as ações sociais que são desenvolvidas por estas instituições, que carregam uma expertise muito grande na área da filantropia e, geralmente, têm maior flexibilidade organizacional para atuarem de forma rápida e certeira no amparo a quem precisa. Uma rede de cuidados sociais mais ampla e bem estruturada vai fazer a diferença neste momento de provação que atravessamos.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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